Por:
Belarmino Van-Dúnem
A
nova aliança contra o terrorismo internacional, ao contrário do que aconteceu
no passado, tem um caracter mais preventivo do que reativo. O combate contra o
regime de Bashar Al Assad levantou o velho dilema da criação de inimigos mais
fortes e perigosos.
Os
guerrilheiros treinados e armados pelos aliados ocidentais aproveitaram a
situação para reivindicar outros objectivos, nomeadamente a criação de um estado
islâmico no Iraque. O problema não está no desejo de aplicar a lei da sharia ao
estado, até porque existem muitos estados islâmicos que coabitam normalmente na
comunidade internacional.
A
principal preocupação prende-se com os princípios defendidos pelos radicais.
Por um lado não admitem uma sociedade plural, multicultural, com liberdade de
culto religioso e o intercâmbio global. Mas o mais grave é o facto de
manifestarem a pré-disposição para expandir o islão na sua versão ortodoxa para
fora dos seus países e obrigar as populações e/ou cidadãos dos estados
conquistados a seguir os seus princípios e crenças.
A
atitude messiânica não é nova, mas os métodos de violência conjugados com os
avanços tecnológicos da actualidade, a ameaça deixa de ser apenas da ruptura
cultural e socio/politica. É sobretudo a insegurança física, o terror, a
fragilização e destruição das instituições do estado e a desagregação e
desestruturação das sociedades.
O
terrorismo com base no radicalismo religioso transformou-se numa verdadeira
ameaça transnacional. As formas de acção dos grupos radicais mudou
completamente nos últimos anos. A primeira mudança e a principal é que os
recrutamentos passaram a ser feitos dentro dos estados alvo. As comunidades
estrangeiras bem integradas são incentivadas a participar em prol das causas
que estão fora do seu ambiente socio/político em nome da fé.
A
Jihad islâmica é o exemplo mais vivo dessa nova realidade. Uma grande parte dos
elementos que participa nos movimentos rebeldes na África do norte e no medio
oriente são provenientes da Europa, dos Estados Unidos da América e dos países
asiáticos de maioria muçulmana. Os países árabes, para além de serem fonte de
financiamento também servem de fonte de recrutamento de militantes que
preenchem as fileiras dos movimentos jihadistas.
A
forma de organização do ponto de vista do sistema de decisão criou um novo
quadro na contenção do terrorismo. As acções das células terroristas espalhadas
pelo mundo têm autonomia para preparar e agir em nome da causa defendida pelo
grupo. O objectivo é sempre o mesmo: criar o caus e o terror com vista a
obrigar os estados e as respectivas populações a converter-se ao islamismo.
A
situação de insegurança se tornou mais preocupante porque as formas de ataque
ultrapassam os meios convencionais. Num mundo em que a tecnologia nuclear está
fora do controlo das autoridades oficiais e onde as agressões são perpetradas
por actores não estatais, o combate torna-se mais complexo e difícil.
Outra
dificuldade notável está directamente relacionada com o facto da existência de
uma ambiguidade do direito internacional. O combate aos grupos terroristas
acarreta entreves e limitações legais porque esses grupos apesar de serem actores
activos no sistema internacional, não possuem território.
Sendo
assim os estados que não possuem ou não têm capacidade de controlo total do seu
território veem a soberania internacional limitada, por outro lado, a
existência de um grupo identificado como radical ou ameaça internacional pode
significar o fim da soberania. As potências mundiais a qualquer momento
reservam-se o direito de agir em qualquer espaço sem aviso prévio.
O
dilema irá continuar uma vez que o alvo principal da luta contra terrorismo tem
sido o abate dos líderes e mentores dos grupos, no entanto é necessário
reconhecer que o incentivo principal do terrorismo com base no radicalismo
religioso está no cariz da mensagem que se tenta passar. Por esta razão o
combate ao terrorismo internacional que se autojustifica na religião deve ter
também uma vertente educativa, informativa e formativa.
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