Um Exemplo de Prontidão e Disciplina
Por. Belarmino Van-Dúnem
O Acordo assinado entre as
autoridades angolanas e da Guiné-Bissau em Setembro de 2010, com maior
abrangência no Sector da Defesa e Segurança, deu início da primeira missão
externa das Forças Armadas Angolanas (FAA) depois do alcance definitivo da paz.
As expectativas estavam divididas, alguns se mostraram cépticos e achavam que
as FAA não estavam em condições de cumprir com mais essa tarefa fora das
fronteiras nacionais.
A verdade é que as FAA
conseguiram dar exemplo de disciplina e prontidão. Não é nenhum exagero afirmar
que Angola mostrou ao continente africano e não só que é possível existir a
cooperação Sul/Sul entre africanos. A MISSANG colocou as Forças Armadas Angolanas
na rota da cooperação internacional e, pela primeira vez, uma missão do género
é efectuada por um exército africano com base num acordo bilateral.
O Acordo
de cooperação no domínio da Defesa e Segurança, envolvendo a formação militar,
apoio logístico, engenharia militar e intercâmbio entre as forças armadas dos
dois países, foi muito mais do isso, Angola prestou todo apoio a televisão e
rádio publicas da Guiné-Bissau que passaram depois de longos anos sem sinal.
Por outro lado, o Estado angolano aprovou uma linha de crédito para a
Guiné-Bissau e já se estava a estender a cooperação bilateral para
outros sectores.
O ensaio de uma cooperação
abrangente entre dois actores africanos, embora tenha terminado de forma
prematura, mostrou que no futuro a cooperações intra-africana tem será possível.
Mas provou também que ainda existe muita falta de maturidade por parte de
alguns Estados africanos. Os líderes africanos ainda vêem os países da sua
região geopolítica como feudos, atropelando os cânones do direito
internacional, segundo o qual, todo Estado tem o direito de firmar acordos
bilaterais em benefício do seu próprio povo.
Por outro lado, as Forças Armadas
Guineenses foram as que estiveram muito mal na fotografia. No dia 12 de Abril
de 2012, o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, António
Indjai, depois de ter se desentendido com o Primeiro-Ministro deposto e
vencedor da primeira volta das eleições presidenciais, Carlos Gomes, veio a
público acusar aqueles que o estavam a ajudar na espinhosa tarefa de reformar
as Forças Armadas sob seu comando.
Numa justificação arrojada,
afirmou que as FAA perigavam a continuidade do exército guineense. Não se
entende como é que o General Indjai só se lembrou que o exército da Guiné-Bissau,
na sua situação actual, teria fim praticamente um ano depois do início da
MISSANG. O exército da Guiné-Bissau pode ser classificado como mais
indisciplinado do continente africano. Os problemas no seio das Forças Armadas
da Guiné-Bissau vão da base ao topo. A desorganização e indisciplina dos
militares guineenses acabam por afectar o poder civil.
O exército da Guiné-Bissau sacrifica
os seus próprios comandantes. Os Chefes de Estado também não passam incólumes,
desde Luís Cabral, passando por Nino Viera, até Kumba Yala todos sofreram
golpes de Estado. O Presidente interino, Raimundo Pereira também foi obrigado a
abandonar o palácio de Bissau, apesar dos limitados poderes que a constituição
da Guiné-Bissau lhe oferece.
A falta de coerência e de sentido
de Estado do exército da Guiné-Bissau foi tal que ignoraram a presença de uma
força estrangeira no seu território. Os acontecimentos do dia 12 de Abril
tiveram um impacte negativo para a Guiné-Bissau, mas provaram também que os
africanos sabem cumprir com o Direito Internacional.
As FAA deram um exemplo
irrepreensível ao não se imiscuírem nos assuntos internos da Guiné-Bissau, mas
também é assinalável a forma digna como se comportaram perante aquela situação
tão melindrosa, onde qualquer descuido poderia resultar numa tragédia. Alias, O
Chefe do Estado-Maior da Guiné-Bissau, António Indjai, através do seu
porta-voz, capitão Daba Na Walna, fez várias declarações que poderiam ser
entendidas como provocatórias, mas a frieza castrense das FAA foram essenciais
para o desfecho bem sucedido com retirada total do efectivo angolano da
Guiné-Bissau.
O reconhecimento pelo
profissionalismo do exército angolano é tal que o Comandante das Forças da
CEDEAO já expressou a sua admiração aos militares angolanos.
As Forças Armadas Angolanas foram
para a Guiné-Bissau em missão de Estado, durante a sua estadia os objectivos
estavam a ser alcançados. Por ordem do Comandante em Chefe foi solicitada a sua
retirada, já cá estão depois de cumpridos todos os procedimentos políticos. As
FAA deram um grande exemplo, todos testemunhamos o trabalho do Presidente José
Eduardo dos Santos, dos Ministros da Defesa e da Relações Exteriores, mas
ninguém viu ou ouviu os efectivos angolanos a fazer declarações. Ao contrário,
do outro lado, só os militares falavam, chegando mesmo a desempenhar o papel
mais preponderante no processo. Os angolanos devem ter orgulho do exército que
têm.