O número de instituições universitárias
não para crescer em Angola. O sistema
de ensino superior foi expandido para as 18 províncias. Tanto com instituições
públicas como privadas. Claro que esses números não seriam significantivos se
não estivéssemos a falar de um país que há dez anos atrás tinha apenas duas ou
três instituições de ensino superior. Portanto a estratégia de expansão do
ensino superior e da universidade em Angola tem sido bem sucedida.
Mas a fundação da Universidade abre caminho para um legue complexo de
interrogações que dificilmente encontramos resposta. Há uma diferença clara
entre o ensino superior e a Universidade, embora na maior parte dos casos essa
diferença não sobressaía por défice das instituições universitárias.
O ensino superior está acima de todos outros tipos ou formas de ensino.
Não existe nenhum outro ensino que o super o ensino superior, porque o seu
saber advêm de si próprio. Embora a característica principal do ensino superior
seja a sua profissionalização, ou seja, o indivíduo fica habilitado a exercer
superiormente a profissão da área ou sector que frequentou.
O ensino universitário diferencia-se do ensino superior porque na sua
essência está a investigação. A investigação está presente em qualquer área de
formação do ensino universitário. Enquanto o ensino superior tem uma relação íntima
com o mercado, porque a finalidade essencial é o de fornecer quadros capazes de
desempenhar as suas funções cabalmente.
O ensino universitário ensina-se fazendo, é um conhecimento em constante
mutação, em construção. Os Docentes da universidade apresentam às suas áreas do
saber com todas as insuficiências e dúvidas que a mesma acarreta. A
investigação na universidade é livre, interrogativa e metódica sem compromissos
com os dogmas reinantes. A diferença entre a investigação universitária e
outros tipos de investigação, como a industrial ou a militar, é que ela não é
secreta, está aberta à sociedade e a sua execução encerra também o erro, errar
é normal e até pode-se afirmar a sua execução não depende do sucesso ou
fracasso final.
A universidade também conserva o saber, os traços de uma determinada
cultura, as características mais imperceptíveis de uma sociedade, não pela
utilidade prática, mas pelo facto de constituírem parte do património da
humanidade e como tal deve ser preservado. Neste sentido a epistemologia, a
estética, a antropologia e, em fim, a filosofia são disciplinas fundamentais do
ensino universitário. Portanto, o ensino universitário é reflexo e
interrogativo. Na universidade não existem verdades absolutas e acabadas, tudo
e todos são questionados. Os paradigmas existentes são questionados e
repensados.
A excelência da Universidade está na produção de saberes novos, na
indagação dos saberes existentes e na proposta para novas vias do saber.
As universidades angolanas devem interrogar as suas próprias culturas, as
relações existentes com a cultura ocidental e não só, propondo novas formas
para preservar saberes que não ingressariam noutras instituições. Sem desprimor
da universidade produzir também saberes com utilidade prática ou imediata para
a sociedade. Por outro lado, a universidade é a única instituição onde a
critica está institucionalizada. Na universidade a critica é sempre bem-vinda,
é protegida e incentivada, todos têm o direito a perguntar (porquê?), mas
igualmente o dever de responder!
Os universitários não são ensinados, estudam, na universidade o verbo reconhecer é constante porque parte-se
do princípio que o discente já conhece. Na universidade a liberdade de
pensamento e a ousadia de fazer indagações são constantemente e solicitadas.
Na actualidade a universidade, na maior parte dos casos, transformou-se
num centro de reprodução de saberes, constituem um pronto a servir. As
universidades estão presas aos interesses capitalistas, estão transformadas em
meios de produção e reprodução de capital. O mercantilismo do conhecimento
ganhou corpo efectivo e a relação é feita entre os Professores que desempenham
o papel de operários e têm apenas a sua força de trabalho (conhecimento) e os
instituidores das universidade que têm o capital (dinheiro) por isso, ditam as
regras, inclusive no ramo do saber ou nos processos para a sua administração.
Esta relação faz com que as
universidades deixem de cumprir com as suas finalidades, claro que é uma
realidade que afecta, inclusive algumas universidades públicas.
Os Professores transformaram-se em reféns dos alunos, são tutelados não
pelo seu saber e desempenho, mas pelo seu cumprimentos aos cânones rígidos e
unilaterais impostos pelo patronato. A interrogação e mal vista, constitui uma
transgressão punível, só a submissão e a aceitação são vistas como salutares.
Ninguém ousa pensar ou interrogar.
Há necessidade de refundarmos o conceito de universidade e encaminha-la
para a sua essência, “ANÁLISE E PRODUÇÃO
DE NOVOS SABERES”. Claro que escrevi estas linhas possuído pelo chamado
dilema de Maquiavel: “Aqueles que ousam apresentar
novas ideias correm dois ricos: Primeiro, a ignorância dos beneficiários;
Segundo, a resistência tenaz daqueles que não querem a mudança”.