O estilo musical Kuduro já entrou
no cardápio musical de Angola. Na década de 90, embora já se fazia ouvir nas
noites africanas, esse estilo musical não tinha a dimensão internacional que
assistimos hoje.
A primeira polémica no que refere
à autoria do estilo foi protagonizada entre o artista Sebem e o Rei Hélder.
Tudo começou com a música “Felicidade”, que “Rei Hélder” teria plagiado sem
respeitar os direitos autorais. O erro foi reconhecido pelo “Rei Hélder” que
acabou por gravar um CD com Sebem que, em abono da verdade, não fez tanto
sucesso, “bateu na rocha” como dizem agora.
O que as pessoas não tinham muito
conhecimento é que a personagem principal do Kuduro é o artista Tony Amado que
terá iniciado o estilo, segundo o mesmo, o nome de Kuduro está relacionado com
a dança praticada por ele na altura. Pondo as polémicas de parte, o Kuduro se
internacionalizou e vários foram os artistas que deram o seu contributo.
No início da década de 2000
começou a surgir, nas periferias de Luanda, vários grupos que, se foram
afirmando no mercado nacional e internacional e existem questões que preocupam
no Kuduro:
1. Sem desprimor nenhum, preocupa
o facto das rivalidades se transformarem em violência, sobretudo com a expansão
da ideia de “Gang” em que se destaca o grupo “Os Lambas” cujo líder do grupo
“Nagrelha” se auto-denomina como chefe do Estado-maior do Kuduro. Os Lambas
gritam ao microfone que são “os demónios do Sambizanga”. As pessoas respondem
com gritos e apupos, os jovens entrem em transe, incentivando o artista Nagrelha
nos seus pronunciamentos pouco sociáveis, como por exemplo “quando o tiro não
vos mata, eu chego aqui para matar”. Pode ser simbólico, mas, assim é bom?
Claro que não!
2. Outro assunto que preocupa no
Kuduro é a letra das músicas. Não se pode negar que houve uma evolução na
métrica e nas rimas, mesmo no ritmo do Kuduro na última década. Mas o conteúdo
da maior parte das letras é bastante pobre e, em alguns casos, ofensivo ao
decoro social. Embora devamos reconhecer várias mensagens positivas nas letras
de “Dog Murras”, “Lambas”, “Puto Lilás”, “Os Kalunga Mata” “Puto Prata”, “Pai
Banana”, “Agre G” e outros putos que fazem sucesso no kuduro. Sem deixar de
criticar as rimas forçadas e os chamados “bifes”.
3. O surgimento de artistas do
sexo feminino é um fenómeno positivo. Mas as letras não têm se distanciado
muito dos chamados “bifes” entre umas e outras. Noite e Dia, Fofando, Própria
Lixa, Gata Agressiva, passando pela Titica que foi considerada (o) pelo Jornal
o País como personalidade do ano 2011, a indumentária caracteriza-se pelo
colorido e pelo pansexualismo.
4. Os estilos de dança também têm
provocado algum burburinho entre os mais conservadores. Há alguns anos, a dança
era Kuduro, agora o estilo da dança que acompanha a musica Kuduro também tem
nome. A que mais polémica suscitou foi a dança “Du Cambua”, cujos movimentos
poucos se atrevam a executar em pleno gozo do seu juízo, não seria nenhum exagero
afirmar que a dança “Du Cambua” é pouco familiar. Ninguém se sente muito
confortável quando a sua filha ou esposa toma a iniciativa de dar “du cambua”.
Os “toques” actuais do kuduro corrompem
qualquer estigma moral de outros tempos, tenho a certeza que os nossos netos
irão perguntar se dançamos “du cambua”.
5. Existe pouco controlo do uso
da patente “Kuduro” fora do território angolano. Não deixa de ser preocupante
que a maior parte das pessoas que se dedica aos assuntos da cultura nacional
fique passivo quando se assiste a perversão de algo que é nacional. Há uma
percepção errada em assumir que todo o estilo musical cuja letra se refira ao
Kuduro pertença a esse estilo.
6. O artista Lecenzo, num duo com
Dom Omar, interpretou a musica “Danza Kuduro” com um ritmo latino, por outro
lado, o artista português José Malhoa também interpretou “Morena Kuduro”.
Embora eu não tenham muitos elementos para avaliar a essência do Kuduro, me
parece que, de Kuduro aquelas musicas só têm o refrão que evoca o “Kuduro”. Mas
a rítmica não se assemelha nada ao Kuduro que tanto furor faz actualmente em
Angola. No entanto, o artista Sebem, no programa “Sempre a Subir” da TPA,
afirmou que aquelas músicas também faziam parte do estilo Kuduro.
Alias um a parte, agora o programa
“Sempre a Subir”, é apresentado por dois artistas “Presidente Gasolina” e “Ouro
Negro” cuja linguagem é imperceptível. Por não se tratar de nenhuma língua
nacional, nem ser característico de nenhuma região penso que não há necessidade
de promover aquele tipo de pronunciamento e/ou linguajar.
Neste momento em que a sociedade
angolana começa a se estruturar, há necessidade de criar ídolos nacionais que
possam concretizar a móbiles político nacional. O Kuduro é um dos factores que
apresentam Angola no exterior, posso afirmar que Angola “está a bater pelo
kuduro” e podemos ter duas atitudes: aproveitar ou fingir que não estamos a ver.
É necessário chamar a atenção dos
teóricos da cultura sobre a urgência em normatizar o kuduro enquanto património
nacional. O blues, Jazz, Rock and Roll, hip hop e mesmo o Fado português são
estilos que nasceram nos subúrbios, mas hoje fazem parte do património
cultural, tanto dos Estados Unidos da América como de Portugal.
Na actualidade não há festa
angolana sem kuduro. Este estilo musical tem versões nas principais línguas
internacionais, inglês, francês e espanhol. Para além de ser interpretada em
Português, já começa a ser usual ouvir kuduro em línguas nacionais. Portanto, o
Kuduro enquanto marca angolana faz parte do património nacional. Há necessidade
de padronizar esse estilo musical, procurando eleva-lo a patamares que possam
contribuir para dignificação da cultura nacional, tal fez Amália Rodrigues
relativamente ao Fado ou Louis Amstrong com relação ao Jazz. Não estranho ver
por ai, pessoas a darem “du cambua”, sobretudo depois de algum estímulo em
liquido na calada da noite, então nos preocupemos com a marca kuduro, quer na
sua qualidade ou na sua preservação.