segunda-feira, 21 de setembro de 2009

AGOSTINHO NETO NAS PALAVRAS DE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

AGOSTINHO NETO NAS PALAVRAS DE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

Por: Belarmino Van-Dúnem


Neste momento em que comemoramos a semana do herói nacional, qualquer angolano lembra-se do homem que resume a luta heróica do nosso povo que é o Dr. António Agostinho Neto cuja obra e sentido de Estado dispensam quaisquer comentário.

O povo angolano sofreu um golpe duro em 1979 quando a passação física do Presidente Agostinho Neto aconteceu. Tendo sido substituído pelo actual Presidente da República, José Eduardo dos Santos. Desde que este facto sucedeu, ao contrário do que muitas vezes passa na imprensa, nas ocasiões que o actual Presidente se pronunciou sobre o seu antecessor, há reconhecimento e dos maiores elogios que alguma vez foram feitos ao herói maior do povo angolano e, para constatar este facto fizemos uma revisão dos discurso do Presidente José Eduardo dos Santos destinados ao Presidente Agostinho Neto.

No discurso de investidura no cargo de Presidente da República em 1979, José Eduardo do Santos dizia “Submetendo-me à decisão do CC do nosso Partido, cumpro hoje o honroso dever de prestar juramento, nesta cerimonia solene de investidura, para assumir os cargos de Presidente do MPLA – Partido do Trabalho, Presidente da República Popular de Angola e Comandante em Chefe das FAPLA. Funções que vinham sendo desempenhadas com brio invulgar, com dedicação, coragem e perspicácia de estadista genial, pelo nosso querido e saudoso Camarada Presidente Agostinho Neto que, inoportunamente, faleceu a 10 de Setembro, em Moscovo. Não é uma substituição fácil, nem tão pouco me parece uma substituição possível. É apenas uma substituição necessária” (José Eduardo dos Santo, 21/09/1979). Há neste discurso um misto de reconhecimento dos méritos do Presidente Agostinho Neto, mas também existe a consciência da tarefa árdua na substituição daquele que conduziu a luta de Libertação de Angola contra o Jugo colonial e fez a declaração da independência Nacional.

Todos os discursos do actual Presidente angolano, manifestam um apreço profundo e, até certo ponto, uma admiração expressa em palavras de Estado, mas muitas vezes emotivas. No 4º aniversário da independência de Angola, o Presidente José Eduardo dizia, referindo-se à Agostinho Neto: “ A nossa alegria e a nossa satisfação confundem-se de quando em vez com a tristeza e a saudade que sentimos por aquele que nos ensinou a fazer a guerra para criar a paz com os olhos secos e nos elucidou sempre a justeza da nossa luta, que nos ensinou a ter certeza na vitória e a resistir intransigentemente contra os inimigos do povo, que nos ensinou a não chorar os mortos para transformar as derrotas momentâneas em êxitos mais retumbantes contra o colonialismo, o imperialismo e os seus agentes”. Agostinho aparece neste discurso como o ícone da liberdade e guia de todo o processo de libertação de Angola, o reconhecimento político confunde-se com o apreço e admiração pessoal, há uma valorização do político e do homem.

O desejo de eternizar a figura do Presidente Neto, por parte do Presidente José Eduardo dos Santos e do MPLA, consta-se no discurso de 1980 dizendo: “…para que lhe seja prestada a homenagem eterna de mérito pela envergadura da sua obra revolucionária, pela dimensão da sua estatura como poeta e estadista proeminente, não bastará termos o seu corpo entre nós, repousando silenciosamente no sarcófago que os nossos artistas lhe oferecerão com a maior dedicação e carinho. Será necessário manter sempre viva a chama revolucionária que acendeu com o seu aparecimento na cena política nacional…”. A continuidade do pensamento e dos feitos políticos e o seu exercício intelectual constituem uma base para manter vivo o espírito de uma Angola progressista e independente.

A continuidade desse reconhecimento e apego podem ser identificados no discurso de celebração do aniversário do Presidente Neto, em 1980: “…Viemos aqui para recordar este dia que, sendo triste, também é de festa, uma festa não muito alegre, mas festa de facto, porque homens da estatura de Agostinho Neto marcam épocas, não pertencem a um só povo, mas pertencem à humanidade inteira”. Há neste discurso uma inspiração rara, um misto de poesia shakespeariana e uma elevação da figura de Neto à herói e homem da humanidade. Alias, Agostinho Neto é um dos poucos nacionalistas africanos que não defraudou o verdadeiro espírito do panafricanismo iniciado pelos afro-americanos nas Antilhas e nos EUA.

Ao contrário de muitos nacionalista da época, Neto foi sempre fiel à solidariedade e ao apoio a favor dos povos oprimidos de África e do mundo, tendo declarado que “Angola é e será, por vontade própria, trincheira firme da revolução em África”. Este pensamento encontra continuidade em José Eduardo dos Santos, cuja liderança levou Angola a ser reconhecida, na actualidade, como parceiro necessário para a paz e reconstrução em África. Portanto existe uma concomitância entre os dois líderes, fica forçoso falar de roturas no processo político angolano.

Na outorga da medalha Agostinho Neto a Nelson Mandela, a dimensão do Presidente Agostinho Neto foi, mais uma vez, elevada ao patamar mais alto dos mortais. No seu discurso, José Eduardo dos Santos afirmou: “…Fisicamente desaparecido em Setembro de 1979, o povo angolano sofreu uma incomensurável perda e jamais se esquecerá deste herói da luta pela sua dignidade. Em sua memória, foi instituída a Ordem Agostinho Neto, a mais alta condecoração da RPA, com a qual são distinguidos aqueles que se destaquem na luta pela paz universal, pela dignidade humana e pela liberdade dos povos”. Encontramos a figura do Presidente Agostinho Neto como guia imortal do povo angolano e símbolo máximo do país, cuja outorga da ordem só é feita para individualidades que tenham dado provas indiscutíveis, como é o caso de Nelson Mandela.
O Presidente Agostinho Neto, continua a influenciar o pensamento que norteia o povo angolano. As suas qualidade como líder, que o permitiram reunir ao seu redor pessoas de várias crenças, estratos sociais, raças e/ou grupos étnico-linguísticos fazem dele o principal orquestrador da Nação angolana. “O Dr. António Agostinho Neto foi, é e será sempre a referência maior do nosso processo de libertação nacional… Foi a sua permanente abertura que permitiu que o processo de libertação nacional avançasse e se alargasse à participação de sectores cada vez mais variados da população, o que gerou a energia e a dinâmica que ainda hoje nos empurra para o futuro. O futuro e a paz, a democracia e o bem-estar com o qual sempre ele sonhou antes de todos nós” (José Eduardo dos Santos 2002).