Nas comemorações do
segundo aniversário da revolução egípcia, o país ficou dividido entre os apoiam
as reformas políticas e sociais com a mesma tendência religiosas para todos,
uma espécie de islamização do Estado. Noutro lado, os que acusam a irmandade
muçulmana, no poder, de estar a trair os preceitos que levaram o povo egípcio a
se unir contra o regime do Presidente Mubarak.
No dia 11 de Janeiro de
2011, o Presidente Mubarak abdicou oficialmente do poder na sequência das
manifestações em todo o país, com destaque para a Praça Thair cuja fama tem
ombreado, nos últimos dois anos, com as Pirâmides. Nas manifestações
participaram todas as tendências políticas, a vitória foi atribuída ao povo,
mas na verdade por detrás de todo o alvoroço estava o poder da Irmandade
Muçulmana que a muito procurava uma oportunidade para pôr a prova a sua
popularidade que não era desconhecida pelo regime no poder e pelas potências
ocidentais que têm uma fobia visceral da islamização da sociedade, medo que se
agudizou depois do fatídico acontecimento do dia 11 de Setembro em Nova Iorque.
O resultado do pleito
presidencial no Egipto não foi novidade, a irmandade muçulmana venceu, embora
um terço da população tenha votado contra, mostrando a diversidade religiosa e
cultural existente naquele país do norte de África que desempenhava o papel de
equilíbrio região, sobretudo nos tempos do Presidente Mubarak.
Depois da vitória, o
Presidente Mohammed Morsi mostrou-se equilibrado ao se distanciar das tendências
radicais, fazendo discursos inclusivos e pouco ou nada fez contra as altas
figuras do antigo regime, alias os militares continuavam a ser os timoneiros do
país de facto. Mas foi sol de pouca dura! O Ocidente tentou puxar por Morsi,
dando-lhe destaque num dos últimos embates entre Israel e o Partido Hamas da
Palestina. Na altura, Hillary Clinton afirmou: "o Presidente Morsi está a mostrar que quer ser o líder da região e o
Egipto irá retomar o seu papel de potência na região e no conjunto dos países
árabes".
“A realidade é como o
azeite, soube sempre”, o Presidente Morsi propôs um referendo para aprovar uma
Constituição que lhe dá poderes absolutos, inclusive acima do parlamento. As
regras de convivência social foram claramente islamizadas e as liberdades
individuais e colectivas profundamente trinchadas. As mulheres e as pessoas sem
confissão religiosa foram claramente atingidas, a luz da nova constituição, é
proibido ser laico. A ciência e a investigação devem estar ao serviço da
verdade de deus.
As pessoas ficaram
boquiabertas, mas o Presidente Morsi já mostra o que pensa e qual o seu verdadeiro
sentido de governação, o islão deve estar no centro das decisões, dentro e fora
do Egipto. O facto de ter manifestado que é contra a intervenção francesa no
norte do Mali criou um grande mal-estar na cimeira da União Africana.
Os egípcios continuam a
ir para a Praça Thair, clamando por mais liberdade, igualdade e unidade da
Nação. A irmandade muçulmana faz ouvidos mocos, e afirma que em democracia quem
vence governa os restantes cumprem. Estamos perante a ditadura da democracia,
mas o que esperar quando todos sabíamos que nas sociedades de maioria islâmica
a tendência é homogeneizar a sociedade e anular a diversidade.
No caso da Primavera
Árabe, posso afirmar sem reservas que o inverno político ainda está a começar
porque, pelo andar da carruagem, no norte de África vai cair granizo e a
estabilidade tardará. A revolução está a ser uma autêntica desilusão.