Por: Belarmino Van-Dúnem
A política externa de qualquer Estado depende muito da sua história e das condições internas. A Federação Russa projecta a sua política externa baseada na sua história, mas sobretudo influenciada pela sua geopolítica.
A história recente do povo russo fez-lhes sair do epicentro da política mundial para uma federação com necessidade de se afirmar no sistema internacional. O desmantelamento da União Soviética para alem de ter enfraquecido o poder simbólico dos russos, causou também o emagrecimento do espaço fisico, tanto geopolítico como geoestratégico.
A Rússia perdeu grande parte do seu território e os novos Estados independentes acabaram por ficar com infra-estruturas industriais complementares a indústria transformadora da Rússia. Este facto tem obrigado a Rússia a manter uma política de intransigência face a possibilidade dos países da União Europeia, Japão, China e os EUA dominarem, quer política ou economicamente os Estados satélites ou com ligações históricas a si. Mas também não se pode descorar o facto de ter emergido na Rússia uma classe empresarial bastante activa e com grande capacidade de capital, juntando a grande comunidade de russos ou descendentes que vivem nos Estados independentes, segundo os dados mais recentes cerca de cinco milhões de russos vivem no estrangeiro. O Estado não é indiferente a essa realidade e estes factos determinam as estratégias da política externa russa.
A Russia está geograficamente bem posicionada para projectar a sua política externa entre a Europa e a Ásia. Embora os russos pertençam historicamente à Europa, não deixa de ser verdade que o seu percurso histórico durante a guerra fria transformo-os numa espécie de continente a parte e uma potência de equilíbrio nas questões mundiais. Os Estados sem poder universal fitam as esperança na Rússia a par da China, embora se reconheça que esse equilíbrio tem sido mais formal do que factual, portanto, ao contrário do que acontecia durante o período da guerra fria, actualmente a Rússia não é um parceiro com quem se possa contar para a confrontação directa ou armada, o mesmo se pode afirmar com relação a China.
A Rússia não tem grandes possibilidades de se descartar do espaço europeu. A maior parte das trocas comerciais da Rússia são efectuadas com a União Europeia, mas a Europa é também o principal consumidor das matérias-primas russas como por exemplo do gás. Embora esse facto não signifique que haja uma consonância a nível da política externa, pelo contrário há a sensação da Rússia procurar sempre demarcar das posições transatlânticas (Europa/EUA) para se posicionar ao lado dos países emergentes ou a favor da maioria dos Estados sem acento no Conselho de Segurança.
Ao contrário da maior parte dos países ocidentais que vê com maus olhos a emergência de novos pólos de decisão política a nível mundial, como as organizações regionais, continentais e/ou grupos económicos e políticos como o IBSA (Índia, Brasil e South Africa) e a CHINDIA (China e Índia), duas potências que poderão dominar economicamente o mundo ao longo do século XXI, a Rússia tem feito a sua inserção. Enquanto as potências ocidentais procuram condicionar o funcionamento dessas organizações através do seu poder económico e da grande influência política que possuem, a Rússia tem procurado fazer parte dessas organizações, inclusive fazendo parte do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) que foi transformado em BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e South Africa). Esse gesto faz da Rússia a potência dentro dos países emergentes e, por arrasto, o porta-voz da maioria no Conselho de Segurança, alias a Rússia é um dos Estados que nunca manifestou reticências relativamente a entrada de novos actores no Conselho de Segurança da ONU, tendo dado o seu apoio formal a entrada do Brasil.
A Rússia criou a volta de si Estados satélites: a nível da Comunidade dos Estados Independentes fazem parte onze Estados com a Rússia doze (Bielorrússia, Ucrânia, Moldávia, Geórgia, Arménia, Azerbaijão, Turquemenistão, Uzbequistão, Tajiquistão, Quirguistão, Cazaquistão e Mongólia como membro observador).
A União da Rússia e da Bielorrússia integra três países observadores, nomeadamente a Sérvia, Abkazia e a Ossétia do Sul.
A Bielorrússia, Sérvia, Geórgia, Arménia, Azerbaijão, Tajiquistão, Quirguistão, Cazaquistão Uzbequistão fazem parte da Organização do Tratado de Segurança Colectiva, a Geórgia, Arménia retiram-se da organização e o Irão é membro observador.
No ano de 2001 foi criada a Organização de Cooperação de Xangai que é conhecida como Grupo dos Cinco de Xangai: Rússia, China, Cazaquistão, Quirguizistão, Tajiquistão mais o Uzbequistão. São membros observadores o Paquistão, Ìndia, Irão, Bielorrússia e a Mongólia, o Sri Lanka faz parte das discussão nos dossiers de cooperação. Esta organização comporta metade da população mundial, portanto tem um potencial bastante promissor em todos aspectos. A Rússia faz parte, como membro observador, da organização ALBA, organização que congrega os Estados da América Latina.
A Rússia mantém relações estreitas com a China, embora no passado tenha existido alguma crispação. Mas também fez uma parceria estratégica com a NATO no sector da segurança por altura da Cimeira de Lisboa. Portanto há, por parte da Rússia, um certo pragmatismo em que procura manter boas relações com as potências ocidentais sem perder de vista a tentativa de recuperar o seu próprio prestigio no sistema internacional.
No que concerne aos dossiers mais cadentes, do ponto de vista da segurança mundial, a Rússia têm estado a dar o seu apoio a NATO, sobretudo logístico, para intervenção no Afeganistão. Aliás, caso se faça recurso à legitimidade histórica, o Afeganistão está dentro do espaço geopolítico da Rússia, apesar da intervenção desastrosa que a União Soviética fez entre 1979 e 1989, como se sabe o Afeganistão está geograficamente mais próximo da Rússia do que de qualquer país da NATO, o mesmo se pode afirmar no que respeita ao Médio Oriente.
No continente africano a Rússia tem implementado uma politica externa bastante retraída, uma espécie de envergonhamento já que a maioria dos Estados do continente optou pelo socialismo e até mesmo pelo comunismo incentivado pela ex-União Soviética, portanto deveria existir uma maior proactividade e proximidade por parte da Rússia, herdando o activo e o passivo da sua história recente.
No entanto, Angola, Namíbia, Nigéria e Egipto assinaram Acordos de Parceria Estratégica e no sector da Energia com a Rússia, tendo beneficiado da visita do Presidente russo em 2009. A Argélia, Líbia, Egipto e Nigéria são os principais parceiros no sector da energia da Rússia em África, a África do Sul pertence ao BRICS como já mencionei anteriormente.
A Rússia, apesar de marcar a diferença no CS, na prática tem consentido as acções da política externa Ocidental. Embora eu reconheça que a Rússia é o maior actor da geopolítica mundial que não coincide com a sua geoestratégia que, em abono da verdade, está efectivamente presa aos países satélites e tende a expandir-se para a Ásia com propensão de manter o status quo na Europa Ocidental. Esta realidade constitui uma das principais razões do desequilíbrio no sistema das relações internacionais que se transformou em unipolar, unidimensional, ideologicamente homogéneo apesar das disparidades e com a institucionalização da desigualdade entre os Estados tal como ficou estabelecido com a criação da ONU em 1945 (os cinco membros do Conselho de Segurança determinam independentemente da maioria) e do Tratado de Não Proliferação Nuclear de 1967 (quem possuía a capacidade nuclear na altura poderia manter a posse, os restantes Estados estão proibidos). Deste modo, os Estados andam a reboque das potências mundiais que tudo fazem para manter o seu status.
A política externa de qualquer Estado depende muito da sua história e das condições internas. A Federação Russa projecta a sua política externa baseada na sua história, mas sobretudo influenciada pela sua geopolítica.
A história recente do povo russo fez-lhes sair do epicentro da política mundial para uma federação com necessidade de se afirmar no sistema internacional. O desmantelamento da União Soviética para alem de ter enfraquecido o poder simbólico dos russos, causou também o emagrecimento do espaço fisico, tanto geopolítico como geoestratégico.
A Rússia perdeu grande parte do seu território e os novos Estados independentes acabaram por ficar com infra-estruturas industriais complementares a indústria transformadora da Rússia. Este facto tem obrigado a Rússia a manter uma política de intransigência face a possibilidade dos países da União Europeia, Japão, China e os EUA dominarem, quer política ou economicamente os Estados satélites ou com ligações históricas a si. Mas também não se pode descorar o facto de ter emergido na Rússia uma classe empresarial bastante activa e com grande capacidade de capital, juntando a grande comunidade de russos ou descendentes que vivem nos Estados independentes, segundo os dados mais recentes cerca de cinco milhões de russos vivem no estrangeiro. O Estado não é indiferente a essa realidade e estes factos determinam as estratégias da política externa russa.
A Russia está geograficamente bem posicionada para projectar a sua política externa entre a Europa e a Ásia. Embora os russos pertençam historicamente à Europa, não deixa de ser verdade que o seu percurso histórico durante a guerra fria transformo-os numa espécie de continente a parte e uma potência de equilíbrio nas questões mundiais. Os Estados sem poder universal fitam as esperança na Rússia a par da China, embora se reconheça que esse equilíbrio tem sido mais formal do que factual, portanto, ao contrário do que acontecia durante o período da guerra fria, actualmente a Rússia não é um parceiro com quem se possa contar para a confrontação directa ou armada, o mesmo se pode afirmar com relação a China.
A Rússia não tem grandes possibilidades de se descartar do espaço europeu. A maior parte das trocas comerciais da Rússia são efectuadas com a União Europeia, mas a Europa é também o principal consumidor das matérias-primas russas como por exemplo do gás. Embora esse facto não signifique que haja uma consonância a nível da política externa, pelo contrário há a sensação da Rússia procurar sempre demarcar das posições transatlânticas (Europa/EUA) para se posicionar ao lado dos países emergentes ou a favor da maioria dos Estados sem acento no Conselho de Segurança.
Ao contrário da maior parte dos países ocidentais que vê com maus olhos a emergência de novos pólos de decisão política a nível mundial, como as organizações regionais, continentais e/ou grupos económicos e políticos como o IBSA (Índia, Brasil e South Africa) e a CHINDIA (China e Índia), duas potências que poderão dominar economicamente o mundo ao longo do século XXI, a Rússia tem feito a sua inserção. Enquanto as potências ocidentais procuram condicionar o funcionamento dessas organizações através do seu poder económico e da grande influência política que possuem, a Rússia tem procurado fazer parte dessas organizações, inclusive fazendo parte do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) que foi transformado em BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e South Africa). Esse gesto faz da Rússia a potência dentro dos países emergentes e, por arrasto, o porta-voz da maioria no Conselho de Segurança, alias a Rússia é um dos Estados que nunca manifestou reticências relativamente a entrada de novos actores no Conselho de Segurança da ONU, tendo dado o seu apoio formal a entrada do Brasil.
A Rússia criou a volta de si Estados satélites: a nível da Comunidade dos Estados Independentes fazem parte onze Estados com a Rússia doze (Bielorrússia, Ucrânia, Moldávia, Geórgia, Arménia, Azerbaijão, Turquemenistão, Uzbequistão, Tajiquistão, Quirguistão, Cazaquistão e Mongólia como membro observador).
A União da Rússia e da Bielorrússia integra três países observadores, nomeadamente a Sérvia, Abkazia e a Ossétia do Sul.
A Bielorrússia, Sérvia, Geórgia, Arménia, Azerbaijão, Tajiquistão, Quirguistão, Cazaquistão Uzbequistão fazem parte da Organização do Tratado de Segurança Colectiva, a Geórgia, Arménia retiram-se da organização e o Irão é membro observador.
No ano de 2001 foi criada a Organização de Cooperação de Xangai que é conhecida como Grupo dos Cinco de Xangai: Rússia, China, Cazaquistão, Quirguizistão, Tajiquistão mais o Uzbequistão. São membros observadores o Paquistão, Ìndia, Irão, Bielorrússia e a Mongólia, o Sri Lanka faz parte das discussão nos dossiers de cooperação. Esta organização comporta metade da população mundial, portanto tem um potencial bastante promissor em todos aspectos. A Rússia faz parte, como membro observador, da organização ALBA, organização que congrega os Estados da América Latina.
A Rússia mantém relações estreitas com a China, embora no passado tenha existido alguma crispação. Mas também fez uma parceria estratégica com a NATO no sector da segurança por altura da Cimeira de Lisboa. Portanto há, por parte da Rússia, um certo pragmatismo em que procura manter boas relações com as potências ocidentais sem perder de vista a tentativa de recuperar o seu próprio prestigio no sistema internacional.
No que concerne aos dossiers mais cadentes, do ponto de vista da segurança mundial, a Rússia têm estado a dar o seu apoio a NATO, sobretudo logístico, para intervenção no Afeganistão. Aliás, caso se faça recurso à legitimidade histórica, o Afeganistão está dentro do espaço geopolítico da Rússia, apesar da intervenção desastrosa que a União Soviética fez entre 1979 e 1989, como se sabe o Afeganistão está geograficamente mais próximo da Rússia do que de qualquer país da NATO, o mesmo se pode afirmar no que respeita ao Médio Oriente.
No continente africano a Rússia tem implementado uma politica externa bastante retraída, uma espécie de envergonhamento já que a maioria dos Estados do continente optou pelo socialismo e até mesmo pelo comunismo incentivado pela ex-União Soviética, portanto deveria existir uma maior proactividade e proximidade por parte da Rússia, herdando o activo e o passivo da sua história recente.
No entanto, Angola, Namíbia, Nigéria e Egipto assinaram Acordos de Parceria Estratégica e no sector da Energia com a Rússia, tendo beneficiado da visita do Presidente russo em 2009. A Argélia, Líbia, Egipto e Nigéria são os principais parceiros no sector da energia da Rússia em África, a África do Sul pertence ao BRICS como já mencionei anteriormente.
A Rússia, apesar de marcar a diferença no CS, na prática tem consentido as acções da política externa Ocidental. Embora eu reconheça que a Rússia é o maior actor da geopolítica mundial que não coincide com a sua geoestratégia que, em abono da verdade, está efectivamente presa aos países satélites e tende a expandir-se para a Ásia com propensão de manter o status quo na Europa Ocidental. Esta realidade constitui uma das principais razões do desequilíbrio no sistema das relações internacionais que se transformou em unipolar, unidimensional, ideologicamente homogéneo apesar das disparidades e com a institucionalização da desigualdade entre os Estados tal como ficou estabelecido com a criação da ONU em 1945 (os cinco membros do Conselho de Segurança determinam independentemente da maioria) e do Tratado de Não Proliferação Nuclear de 1967 (quem possuía a capacidade nuclear na altura poderia manter a posse, os restantes Estados estão proibidos). Deste modo, os Estados andam a reboque das potências mundiais que tudo fazem para manter o seu status.