Por: Belarmino Van-Dúnem
A
copa do mundo de futebol que está a decorrer no Brasil criou expectativas muito
fortes para os africanos uma vez que as seleções que representaram o continente
estão recheadas de estrelas, verdadeiros astros do futebol que dão alegrias aos
adeptos dos clubes onde militam na Europa e não só.
A
selecção nacional deveria ser o fórum de maior exposição de qualquer atleta,
mas para as estrelas do futebol mundial, ser selecionado para representar a
Nação acarreta um misto de sentimento patriótico e das responsabilidades
contratuais que os atletas têm com os respectivos clubes, cujas cláusulas são
exigentes em troca de mensalidades que chegam aos milhões na maior parte dos
casos.
Não
sendo uma oportunidade de ter benefícios e progressão na carreira desportiva,
aliada a falência dos programas de educação patriótica da maior parte dos
países e, tendo em conta a desorganização e má gestão das federações nacionais,
os atletas representam seus estados, mas com o sentido de oportunidade de fazer
vincar os contractos que subscrevem com as entidades nacionais.
O
contracto é claro: as autoridades prometem prémios que estão fora das
possibilidades dos cofres na sua posse; na verdade há também os dirigentes que
aproveitam a ocasião para tentar ou fazer mingocio
(negocio com a instituição com dirige) e os prémios ficam sempre atrasados e,
as vezes, os atletas ficam sem os direitos previamente atribuídos.
Como
resultado os atletas começam a colocar os dirigentes entre a parede e a espada:
ou há cumprimento das promessas ou não há continuidade da participação do país
nas competições. É incrível, que esse tipo de situações é recorrente nas
seleções africanas, na copa do mundo a decorrer na Brasil três selecções que
representaram o continente africano estiveram muito mal na fotografia:
Camarões, Gana e Nigéria.
Os
jogadores dos Camarões ameaçaram não embarcar de Angola para o Brasil caso a
federação camaronesa não saldasse a divida que tinha com os jogadores. Até aí
era um filme que todos já tinham visto, mas o maior problema era o facto da
campanha para participação dos Camarões na competição mundial de futebol fora
paga com verbas provenientes de um empréstimo feito pelo jogar Samuel Eto.
A
situação tem várias implicações entre as quais podem ser destacadas o facto de
um cidadão ter mais solvência financeira que o seu Estado; um atleta que faça
empréstimo a federação nacional da modalidade automaticamente está em posição
de não comportar-se como os restantes colegas de equipa. Como resultado do mau
ambiente a selecção ficou retida na primeira fase do campeonato.
A
Selecção do Gana tida como exemplo no continente, quer pela sua organização
interna quer pela forma como apostou numa nova geração de atletas que os tornou
na selecção mais promissora de África. Mas também esteve muito mal na
fotografia desse mundial da FIFA ao exigir que o premio de participação fosse
pago no Brasil e cada um devia receber o seu envelope, nada de transferências
bancarias nem cheques que na maior parte dos casos não têm fundo.
As
imagens foram surreais, autentico rococó, o avião aterrou e foi escoltado até
ao hotel ao vivo, cada jogador saiu da sala onde estava o dirigente da
federação ganesa com o seu maço de dólares, exibindo para as camaras e alguns
simulando guardar por baixo do fato de treino. O grave é que os jogadores
prometeram não entrar no campo na partida contra Portugal sem o dinheiro. O
Ministro dos desportos foi exonerado depois da eliminação do Gana.
A
Nigéria única selecção ao sul do sahara que chegou mais longe, também solicitou
o pagamento do prémio de participação antecipadamente ou seja no Brasil sob
pretexto de que depois da copa cada jogador iria para o país onde joga. A
federação nigeriana teve o mesmo procedimento que a sua similar do Gana, cada
atleta recebeu o seu maço de dólares no Brasil.
A
situação encerra várias ilações: se havia possibilidade de pagar os jogadores
porquê que se chegou até aquela situação; há uma clara falta de confiança nas
instituições; é necessário melhorar a imagem do continente e refletir sobre o
sentido de Estado. Mas o bom de toda essa situação é que as críticas choveram
de todos os lados, dentro e fora dos países em causa e a própria FIFA já
afirmou que irá regular as contratações ou acordos de participação para evitar
situações futuras.
O
que continua a deixar todos boquiabertos é que esse tipo de situação só
acontece com as selecções africanas. Uma fotografia muito mal apresentada pelas
selecções africanas no Brasil, apesar da simpatia que os brasileiros
demostraram.
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