segunda-feira, 18 de maio de 2009

Intriga no Trabalho e Disfunção Burocrática

Belarmino Van-Dúnem*



A gestão de comportamentos, valores, sensibilidades e expectativas é um dos desafios mais difíceis que se apresenta a um gestor que lidera uma organização, seja ela estatal ou privada.
A intriga é um dos males que atravessa a maior parte das empresas. Este facto se deve a vários factores:
a) Uma grande parte dos chefes não cumpre com as formalidades necessárias da comunicação vertical e horizontal na instituição de trabalho. O “disse me disse” torna-se o meio de informação para os funcionários;
b) Os funcionários de base não têm qualquer controlo e agem de forma liberal;
c) A meritocracia poucas vezes faz parte da promoção dentro da instituição.
Quando se trabalha nessas condições a tendência dos funcionários é a de procurar os corredores para mostrar serviço e lealdade aos chefes. Umas das formas para obter a confiança do(s) chefe(s) é denunciar todos os que estão contra o mesmo, os que querem lhe roubar o lugar e todos os que fazem parte do outro grupo.
Para sobreviver “vale tudo”: calúnia, boato, divisionismo e intriga. O mau ambiente no trabalho vai desde a má disposição do (a) funcionário(a) até a falta de autoconfiança do chefe, como consequência acontece uma autêntica disfunção burocrática.
O subchefe não vê os papeis, a secretária manda mais do que o chefe de departamento, o funcionário de balcão torna-se mais importante que o próprio chefe porque este só tem acesso aos papeis que aquele decide que cheguem até ele.
Nas empresas privadas a disfunção burocrática não é tão notória porque os gestores principais têm mais preocupação em se certificar da eficiência e eficácia de todo o processo burocrático. O mesmo não se pode dizer das instituições públicas onde uma parte significativa dos funcionários pensa em ter emprego, mas não se preocupa em trabalhar, ficando poucos com o trabalho de muitos.
O embrulho burocrático é tão complexo que qualquer decisor consciente prefere trabalhar no “deixa andar” do que instalar um processo disciplinar. O processo torna-se mais complicado quando os sindicatos tomam a decisão de intervir no caso: o artigo y não está em consonância que a lei x; é necessário publicar no diário da república que o trabalhador está sob processo; eh pa, então é melhor deixar andar. Até existem aqueles casos em que o trabalhador recebe durante meses e até anos, enquanto o processo corre os seus trâmites legais, claro lesando os cofres do Estado.
Lembra-me aquela história do touro reprodutor: “O proprietária alugava o seu touro para reprodução. Dado a procura na região o governo local decidiu comprar o touro e pô-lo ao serviço da comunidade. Mas, infelizmente, desde a compra o touro deixou de se interessar pelas vacas e passava o dia a dormitar. Quando foi interrogado sobre as razões da sua mudança de comportamento, o touro respondeu: “Agora sou funcionário público”.
Segundo Max Weber (1992: 54pp), para evitar esse tipo de episódios é necessário cumprir com os seguintes pressupostos:
a) Carácter legal das normas e regulamentos; b) Carácter formal das comunicações; c) Carácter racional e divisão do trabalho; d) Impessoalidade nas relações; e) Hierarquia da autoridade; f) Rotinas e procedimentos estandardizados; g) Competência técnica e meritocracia; h) Especialização da administração; i) Profissionalização dos participantes; j) Completa previsibilidade do funcionamento.
A burocracia deve facilitar a adequação dos meios aos objectivos (fins) pretendidos. Nunca deve ser um factor de obstrução do processo burocrático. Os decisores devem certificar-se com frequência que têm o controlo de todo o processo tanto na horizontal (do chefe para o chefe) como na vertical (do subordinado para o chefe). O sujeito indeterminado “o alguém” não pode fazer parte dos quadros da instituição. O “disse me disse” é uma frase que também deve desaparecer da comunicação laboral e “quiçá” do dia-a-dia de todos nós.

ONU FORMA POLICIAS DA REBELIÃO NA COTE D’IVOIRE

Por: Belarmino Van-Dúnem

“Bom dia Senhor, controlo de rotina do Comando da Policia”. Estas são palavras que os habitantes de Bouaké, Cote d’ Ivoire, têm que se habituar a ouvir por parte da polícia da ordem pública das Forças Novas (FN), rebeldes que controlam o norte da Cote d’ Ivoire desde Setembro de 2002 com a tentativa de golpe de Estado contra Laurent Gbagbo.
As forças policiais das Forças Novas (FN) foram formadas pela ONU no âmbito dos acordos de Pretória, assinados pelos actores da crise ivoiriense em 2005, que prevê o desarmamento da população.
A ONU formou cerca de 533 polícias pertencentes aos rebeldes das Forças Novas, mas até a data o Governo, liderado por Charles Konan Banny designado pela comunidade internacional, o Presidente da República, Gbagbo, e os rebeldes não conseguiram pôr em prática os acordos que previam eleições livres até Outubro de 2005, formação de um exército nacional e a extensão da administração do Estado em todo o território nacional.
Por estas razões os habitantes de Bouakê ficaram impávidos quando neste novo ano de 2007 foram interpelados por forças policiais dos rebeldes. Segundo Yaya Koné, porta-voz do Comando da Policia das Forças Novas, os policias recém formados pretendem dar uma nova visão e imagem da polícia ivoriense, contrariando a polícia corrupta do governo que controla o Sul do país. O Comandante das forças policias das FN afirmou que ainda carecem de meios, mas têm toda boa-vontade para estabelecer a lei e a ordem no país.
Segundo o Site 20 Minutes (2007), o primeiro patrulhamento da polícia das Forças Novas foi acompanhado atentamente pelas forças da ONU no local. Os novos polícias, sem armas, interpelavam educadamente os transeuntes e os automobilistas que ficaram boquiabertos por existir polícia de ordem pública numa região supostamente sem governo.
A grande questão que se levanta é a seguinte: Não será contra-senso a ONU supervisionar o trabalho de forças rebeldes quando o presidente em causa é reconhecido pela Assembleia-Geral da ONU? A verdade é que esta acção dos rebeldes da FN, supervisionada pela ONU, dá mais força e razões para continuar o braço-de-ferro que existe entre os vários actores da crise ivoirense. A resolução 1633 do Conselho de Segurança das Nações Unidas legitimou o mandato do Actual presidente, Lourent Gbagbo, e do Primeiro-Ministro Charles Konan Banny, facto que causou o desespero de toda a oposição.
Por esta via, não há dúvidas que estamos perante um governo paralelo no mesmo Estado. Portanto, um governo sem Estado. Neste caso cabe a comunidade internacional legitimar e reconhecer os poderes, mas Cote d’Ivoire existe uma grande ambiguidade, nem os rebeldes das FN, nem o presidente têm o apoio total da comunidade internacional. O caos continua.