Angola no Contexto da Globalização
Por: Belarmino Van-Dúnem
No actual contexto do sistema internacional a ideia de interdependência entre os actores das relações internacionais é um factor preponderante. Os interesses particulares que, antes constituíam apanágio dos diplomatas, enquanto defensores das causas nacionais, mudou para um paradigma de defesa dos interesses globais ou de determinado grupo de países.
A mudança de pressuposto no âmbito internacional induz automaticamente à uma mudança no perfil e nas aptidões do diplomata que vê-se perante uma panóplia de assuntos cujo acompanhamento é ao mesmo tempo multidisciplinar e multi-sectorial. A situação é mais complexa porque as tradicionais funções da diplomacia se mantêm: informação, negociação, protecção e promoção dos interesses nacionais no exterior.
Na situação acima descrita as oficinas diplomáticas carecem de uma adaptação quer do ponto de vista humano ou material. Porque é fácil constatar que no rol dos instrumentos da política externa do Estado, os instrumentos pacíficos são mais eficientes que os violentos. Sendo assim os Estados são obrigados a estruturar as suas estratégias contando com verbas financeiras bastante avultadas. O exemplo mais evidente nos últimos quinze anos é o da China cujo investimento para influência cultural, política e criação de imagem não para de aumentar.
No caso concreto dos Estados sem mais-valia do ponto de vista da competitividade, com o produto interno bruto ancorado na exportação de matéria-prima, falta de quadros qualificados e em número suficiente, inexistência de uma classe media competitiva e autónoma, falta ou insuficiente consciência de um móbiles político nacional, a estratégia passa pela estruturação e reforma internas.
No caso concreto de Angola, há sinais bastante positivos. A política externa nacional passou da finalidade com pendor na segurança para uma diplomacia voltada para criação de imagem, influência política e na diplomacia do petróleo, embora eu não concorde com essa designação porque acho que a utilização dos recursos internos para se afirmar na arena internacional pode ser enquadrada com mais lógica na diplomacia económica.
No caso concreto de Angola, para além do petróleo, as forças armadas e a figura do Presidente José Eduardo dos Santos têm sido os veículos da política externa nacional. Há uma dinâmica interna facilmente perceptível, mas no âmbito das oficinas diplomáticas a reforma vai a conta gota.
Nos últimos cinco anos houve mobilidade dos diplomatas, a maioria acabou por assumir novas funções ou transferida para outra embaixada. Por outro lado, se reconhece um grupo de jovens diplomatas na faixa dos trinta anos de idade, na sua maioria com a categoria máxima de primeiro secretário.
Na verdade, não houve a transição do grupo de embaixadores, ou seja, na conjuntura dos anos 80 e 90 ““…tivemos que nomear embaixadores que não fizeram cursos de diplomacia e muitos deles não fizeram cursos de Relações Internacionais… foram surgindo alguns problemas, nomeadamente falta de regulação e de conveniente organização…” (Presidente José Eduardo dos Santos 1981, num Comício na Província do Kwanza-Sul).
Quatro anos mais tarde o Presidente da República afirmou “foram levadas a cabo iniciativas diplomáticas para normalizar as relações da República Popular de Angola com o Senegal e com a República da China, para reforçar o prestígio e o conhecimento correcto da realidade nacional na Europa Ocidental e para diversificar e ampliar as relações económicas com todos os países de interesse com base na reciprocidade de vantagens”. Há Necessidade de implementar esse pensamento que continua actual, porque ainda que se faça o trabalho internamente, se não existir continuidade no exterior do país através das oficinas diplomáticas, dificilmente se conseguirá ultrapassar os mesmo problemas de sempre, uma imagem deturpada de um país que vem galgando positivamente em vários sectores.