Por:
Belarmino Van-Dúnem
A
escalada e intensificação da violência na região de Gaza começa a incomodar
tudo e todos. Neste momento já não se sabe bem qual é o objectivo de um e do
outro contendor. No início Israel anunciou que pretendia desarmar o Hamas,
tendo acusado esse grupo de ser o mentor do rapto e posterior assassinato dos
três jovens israelitas no dia 12 de junho do corrente ano.
O Hamas, por seu lado, também aproveitou o
início do conflito para reclamar o levantamento do isolamento que Israel impôs
a região sob seu controle desde 2012. Teria mais lógica reclamar apenas o
direito de legítima defesa, tendo em atenção o facto do acordo em que o Hamas e
a OLP formaram um governo de reconciliação, sob liderança da Fatah. O governo
de reconciliação nacional não chegou a tomar posse.
Face
a situação há necessidade de se fazer um conjunto de perspetivas para se
avaliar as consequências futuras:
1.
Israel
pretende desarmar o Hamas, mas a forma como está a proceder cria mais inimigos
do que simpatizantes para a causa israelita; a maior parte das vítimas no
conflito são civis, cerca de 1260 palestinianos e 55 israelitas já perderam a
vida.
2.
Nenhum
palestiniano compreenderá os bombardeamentos contra os hospitais ou mesmo nos
edifícios sob o controle da ONU em Gaza. O isolamento da região criou condições
para que Hamas construísse mais tuneis e reorganizasse o seu sistema de defesa
cujos aliados estão fora do território palestiniano;
3.
Nesse
conflito há uma irracionalidade que pode valer ao Estado israelita o surgimento
de opositores mais radicais, sem localização exata e com disposição para tudo;
4.
O
Hamas, por seu lado, deveria encontrar uma estratégia que permita ao grupo
apresentar-se como interlocutor válido para o alcance de um acordo de paz com
termos de longo prazo e que levasse a criação de um Estado palestiniano assim
como a recuperação da maioria dos territórios conquistado por Israel despois da
guerra do seis dias em 1947 e nos anos subsequentes.
5.
Não
faz sentido incentivar a população a embarcar nesse homicídio colectivo porque
no fim não haverá vencidos nem vencedores uma que as causas do conflito
continuaram intactas e novos militantes palestinianos e não só irão integrar as
fileiras do Hamas.
A
comunidade internacional está completamente no descrédito e, mais uma vez o
sistema internacional manifesta o seu desajuste e incapacidade face a
instabilidade que graça pelo mundo. Há medidas para alguns casos, enquanto para
outros existe uma clara incapacidade para resolução.
Até
a data nem a Assembleia-geral da ONU, muito menos o Conselho de Segurança
conseguiram aprovar qualquer tipo de sanções contra Israel. O Secretário-geral
Ban Ki-moon tem-se desdobrado em apelos, pedidos e até implora que as duas
partes terminem com os combates, mas a sua função seria a de orientar, ordenar
e impor através dos meios da ONU um cessar-fogo imediato e o início de
negociações.
Os
EUA e a União Europeia também estão impotentes tendo em conta as alianças que
têm com Israel, alias as pequenas críticas feitas por John Kerry foram
recebidas em Israel com críticas violentas, facto que obrigou a administração
Obama a solicitar um pedido de desculpas por parte de Israel, até a data não
houve desculpas, mas a estratégia ressoltou porque os EUA já não têm
pressionado como no início.
A
Turquia, o Qatar e o Egipto estariam em posição privilegiada para convencer o
Hamas a declarar um cessar-fogo imediato, mas também dependem da proactividade
dos EUA. Enquanto isso os civis de um lado e de outro vão vivendo atormentados
e nunca se sabe quem será a próxima vitima e qual será a forma como irá morrer.
No
final da história Israel não terá outra saída se não ocupar militarmente a
Faixa de Gaza ou então o território irá se transformar num espaço privilegiado
de grupos radicais, tal como acontece na maior parte dos territórios sem uma
ordem institucional. O Hamas por seu lado corre o risco de ir para as
negociações mais fragilizado uma vez que, apesar dos danos contra alvos civis
injustificáveis, não deixa de ser verdade que os Tuneis do Negócio, como são
chamados, estão a ser destruídos e o sistema de defesa antimíssil Iron Dome ou
Cúpula de Ferro de Israel está a minimizar de forma significativa as vítimas em
Israel. Há necessidade de se encontrar uma paz duradoira e definitiva que dê
direitos aos dois povos viverem em segurança.
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