Por: Belarmino Van-Dúnem
O
comércio informal constitui uma das actividades económicas que caracteriza uma
grande parte da paisagem urbana dos Estados africanos. Embora seja uma prática
que podemos considerar como pouco recomendável para a economia de qualquer país
uma vez que raramente se arrecada impostos e na maior parte dos casos os
produtos são de origem duvidosa, tanto na qualidade como pela sua proveniência.
Os
estudos sobre o comércio informal acabaram por fazer dessa prática uma actividade
“legaciosa”, ou seja, as autoridades
procuram regular o comércio informal quer através de impostos de saneamento dos
locais de venda, entre nós é a praça que aparece em qualquer local baldio, quer
em locais onde periodicamente (uma ou duas vezes por semana) é possível ir a
busca de produtos mais baratos e com tratamento de camarada na compra e na venda.
O
comércio informal não é uma actividade criminosa em si, tem algumas vantagens
sociais tal como o sustento de algumas famílias, acesso fácil aos produtos por
parte do consumidor, preços baixos e flexíveis, assim como lucros desajustados
para os vendedores que não cumprem nenhuma regra pré-estabelecida pelas
autoridades.
Claro
que nestas condições o Estado perde por não arrecadar qualquer receita e por
outro lado, aventa-se a possibilidade de ter gastos com a saúde, segurança e
saneamento decorrentes da prática do comércio informal. Por essa razão em quase
todos os países, desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, existe um esforço
para regular e tornar o comércio informal numa actividade formal e com o mínimo
de regras e garantias para o vendedor e o consumidor.
O
comércio informal é feito de duas formas: por um lado essa prática pode ser
feita num determinado local, tal como referi anteriormente na praça, mas também
nos passeios, em pequenos casebres edificados nas esquinas para o efeito. Por
outro lado, há os vendedores informais ambulantes, entre nós conhecidos como
zungueiros. Estes andam de um lugar para o outro, oferendo os seus produtos e
manifestando as vantagens dos mesmos.
A
Zunga é uma prática muito vulgar nas urbes africanas. A forma como é feita
perturba a fluidez que se quer ideal para o corre-corre próprio das cidades.
Embora se reconheça que a presença desses vendedores acaba por fazer parte da
paisagem e os cidadãos planificam as suas actividades contando com eles. Os
zungueiros colmatam todo o tipo de necessidade, desde da disponibilidade de
produtos alimentares, materiais eletrónicos até a prestação de serviços nos
mais diversos sectores.
No
caso concreto de Angola, a Zunga pode ser considerada tradicional, sobretudo
nas cidades capitais. Mas a situação começou a ficar descontrolada com o êxodo rural.
Mas também porque a diferença entre Zungar, que dá a ideia de vendedor
ambulante e o comércio informal de forma fixa num dos locais da via pública,
assim como nas estradas começou a ser uma prática recorrente cujos transtornos
são do conhecimento de todos: os alimentos são confecionados sem qualquer
cuidado de higiene; as pessoas envolvidas nessas actividades acabam por
satisfazer todas as suas necessidades na via pública, desde as necessidades
fisiológicas até a higiene pessoal; os passeios, estradas, acessos aos quintais
privados e locais públicos ficam vetados; as casas de comércio formal sofrem a
concorrência mesmo em frente a porta de entrada; nas estradas para além de
competirem com os carros e, em muitos casos, os meliantes aproveitam o ambiente
para assaltar e cometer outros tipos de crime.
A
decisão de suspender a fiscalização das zungueiras era no sentido de se
investigar as informações segundo as quais os fiscais têm agido com dolo,
maltratando os vendedores/as e dando destino indevido aos produtos apreendidos.
Mas a ideia era aplicar a medida as zungueiras e zungueiros e não ao comércio
informal de forma geral.
O
mau aproveitamento de uma iniciativa que visa fazer justiça e procurar soluções
para uma situação problemática, tanto para os utentes da via pública como para
as pessoas que se dedicam ao comércio informal, está a fazer aumentar o caus
nos passeios, rotundas e outros locais da cidade de Luanda, até os que andavam
de um local para o outro decidiram fixar bancada nas ruas ou simplesmente
colocar os produtos no chão para vender, há necessidade de repor o verdadeiro
espírito da iniciativa.
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