Por:
Belarmino Van-Dúnem
Os
EUA e a União Europeia estão cada vez mais convencidos que não há outra saída
para a crise que os opõem a Rússia se não aceitar a realidade nua e crua da
anexão da Crimeia, que volta a ser parte da Federação Russa.
A
crise que ditou a queda do Presidente ucraniano Viktor Ianukovich foi largamente
apoiada pelo Ocidente em nome da liberdade e da democracia. Mas o que não se
levou em conta na altura é que o Presidente Ianukovic estava a cumprir um
mandato legitimado pelo povo. Alguns senadores americanos deslocaram-se a Kiev
na companhia de camaradas eurodeputados para incentivar os manifestantes a
prosseguir com a revolução, mas o feitiço saiu contra o feiticeiro.
A
Rússia tentou equilibrar o jogo de forças, mas não conseguiu evitar que se
formasse um governo interino na Ucrânia. A resposta não se fez esperar e de
forma gradativa a Rússia reivindicou a Crimeia que até 1953 fazia parte do seu
território. Foi uma surpresa para uns e a confirmação das expectativas para
outros, o Presidente Vladimir Putin foi confirmado como a principal ameaça para
hegemonia da OTAN no mundo, afinal nem todos têm medo.
A
cedência dos EUA e da União Europeia face a anexão da Crimeia pela Rússia ficou
confirmada na última Cimeira UE-EUA onde os mais fortes do grupo pediram aos
restantes membros para torcer o braço
e procurar reduzir a dependência energética que a Europa têm da Rússia, cerca
de 30 por cento do gás consumido na União Europeia provem da Rússia.
Na
Cimeira UE – EUA, o Presidente Barack Obama descartou qualquer possibilidade de
enfrentar militarmente a Rússia por causa da Crimeia. Apenas lamentou a opção
do governo russo, afirmando que se trata de um “teste para a Europa e para os Estados Unidos da América na defesa da
ordem internacional que levou gerações a ser construída”. Na verdade acho
que o teste não é propriamente na defesa da ordem internacional, mas se outros
actores do direito internacional que não pertencem a OTAN também podem ousar
implementar as suas estratégias com o objectivo de fortalecer a sua posição no
xadrez mundial.
O
Primeiro-Ministro do Reino Unido foi mais realista ao consciencializar os seus
colegas da UE sobre as consequências de aprofundar as sanções contra a Rússia.
“Ao darmos um soco podemos magoar a
própria mão”, quer dizer ao aprofundar as sanções contra a Rússia, os
países da União Europeia estarão a aprofundar uma crise cujas consequências
económicas e políticas são imprevisíveis.
A
Europa está com medo da possibilidade, que até agora julgo impossível, da
Rússia fazer uma escalada de anexações nos territórios de maioria Russa, hoje
parte da OTAN, nesse caso os países visados seriam a Estónia, Letónia e a
Lituânia. O Secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, no fim de uma
reunião com o Presidente Obama declarou que a organização que dirige “não está a procura de confrontação mas se
for necessário não hesitará”, embora a Rússia já tenha afirmado que não
pretende anexar mais nenhum território nem a leste, muito menos a Oeste, e que
assim seja.
O
cenário internacional parece ter mudado completamente, afinal as fronteiras na
Europa também ainda estão por se definir correctamente, não é só o problema de
antigas minorias que há muito reclamam independência, mas são mesmo alguns
Estados que estão de olho no território de outros Estados. Este tipo de
situação coloca todos os actores internacionais em estado de pousio estratégico
porque a síndrome da Guerra Fria afecta sempre quem não têm culpa e o aviso que
os Estados africanos, asiáticos e da América Latina deviam fazer é que não
queremos fazer parte de uma eventual guerra nuclear nem tão pouco de uma Guerra
Fria, apesar de não existir razões ideológicas para tal.
As
consequências de uma confrontação entre “os Golias” do mundo acabará sempre por
implicar o envolvimento de terceiros directa ou indirectamente. A teia das
alianças pode criar um sistema e como parte do sistema todos terão que dançar o
mesmo esquema, se isso acontecer, África e o mundo conhecerão mais alguns
séculos de retrocesso, adiando a esperança de uma geração que está quase a
alcançar o desenvolvimento e o bem-estar. Por agora, a Rússia parece
contentar-se apenas com a volta da Crimeia para a sua posse e a UE e os EUA
demostram estar conformados com o facto, mais muita tinta ainda irá correr
sobre o assunto.
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