Quando François Hollande venceu
as eleições presidenciais em França, a dúvida que pairou e que a maior parte
dos especialistas em relações internacionais tiveram era se a França iria
prosseguir com sua inserção no sistema mundial com base na intervenção e
presença política/militar, tal como foi projectado pelo Presidente Nicolas
Sarkozy.
O Presidente Nicola Sarkozy fez
da França o que hoje e no passado é a França, uma potência que se define como
pacífica ao serviço da humanidade sem descorar o bem-estar e a segurança do
povo francês.
Nicolas Sarkozy fez o retorno da
França ao epicentro da política internacional, o sinal mais evidente foi o
retorno a OTAN, a profissionalização da forças armadas e o reatamento da actividade
francesa em África com a presença de forças militares cujo objectivo é criar
uma conjuntura favorável a paz e a estabilidade que permitam a implementação
das estratégias e dos interesses no continente.
A presença francesa em África tem
variado ao longo do tempo adaptando-se a conjuntura nacional, europeia e
respondendo aos contornos que a política interna dos países africanos,
sobretudo as suas ex-colónias têm tomado. “Na
década de 60 a presença militar francesa em África rondava os 30000 homens.
Esse número baixou para 15000 nos finais de 1980. Entre 1995 e 2007,
paralelamente a profissionalização, o dispositivo militar foi reduzido,
adaptando-se a organização de África em sub-regiões, tendo a França optado por
fechar algumas bases.
Em 2008 a França tinha efectivos militares em cinco pontos de apoio
para todo o continente africano: No Djibuti; no Senegal; no Gabão e; no Costa
do Marfim; um destacamento no Chade, considerado como um dos mais antigos. Na
altura a França estava envolvida em três operações em África: Na Costa do
Marfim, na República Centroafricana e na fronteira entre o Chade e a região de
Darfur.
O custo total, humano e financeiro, da presença francesa em África
representou cerca de 10000 homens e 760 bilhões de euros por ano” (Livre
Blanc 2008).
Ao longo da história
pós-independência dos Estados africanos habituamo-nos a pensar a França como
uma das principais impulsionadoras da União Europeia, alias o tratado de Lisboa
de 2007 em que a União Europeia consolidou-se como bloco regional
supranacional, porque em 1952, a França esteve na base da criação da Comunidade
Europeia do Carvão e do Aço com o tratado de Paris.
Mas para geoestratégia em África
a potência que sempre teve uma presença militar fora dos contornos da
guerra-fria é a França, embora muito concentrada nas ex-colónias, tendo como
base acordos de defesa e segurança.
O fim da guerra fria e a
redefinição da estratégia de segurança da França face a conjuntura europeia que
tem procurado desenvolver um sistema de segurança comum reforçando a
Organização do Atlântico Norte davam a sensação de uma França apática
relativamente ao seu legado histórico em África e os EUA se afirmavam cada vez
mais como o actor com uma influência planetária.
O retorno das actividades
militares francesas fora das suas fronteiras continua a ser essencialmente em
África. Nos últimos anos consta apenas a intervenção no Afeganistão, as
restantes foram em África. Na nova estratégia de segurança da França, tem uma
forte componente multilateral. O Livre Blanc (2013) exclui qualquer tipo de
intervenção militar francesa sem uma coordenação bilateral ou multilateral.
Embora essa probabilidade esteja em aberto caso seja necessário para a
segurança nacional.
Mas esse facto não tem retirado a
autonomia das intervenções militares francesas no exterior, sobretudo em
África. As intervenções na Costa do Marfim, na Líbia e no norte do Mali
demonstraram essa realidade. A diferença entre elas é que enquanto na Líbia
houve uma clara colaboração directa da OTAN, na Costa do Marfim e no norte do
Mali as parcerias foram exclusivamente africanas. A última iniciativa de
intervenção francesa e que ainda em curso é na República Centro-africana,
embora já exista a promessa do envio de uma força suplementar europeia de 1000
efectivos, para se juntarem aos 2000 efectivos franceses e aos cerca de 4500
soldados africanos da misca.
A França se apresenta claramente
como a potência mundial com vocação africana, a nova estratégia é muito mais
abrangente e pragmática, para além de manter os acordos de defesa e segurança
com as ex-colónias, a França reconhece a necessidade de criar alianças com as potências
continentais em África. A África do Sul e a Nigéria aparecem como os parceiros
principais da Europa e da França no sector da defesa e da Segurança, uma
abordagem nova que demonstra adaptação a nova realidade do continente
africano.