Da Moralização
da Sociedade
Por: Belarmino Van-Dúnem
A existência do mal no mundo é um facto incontestável
(guerras, sofrimentos físicos e morais, limitações de toda a ordem, desastres
naturais, fome, injurias, exclusão, ameaças e como se não bastasse, o último
mal sob o qual ninguém pode fazer nada, a morte.
Na tentativa de se encontrar uma saída para todo o mal
que graça pelo mundo os homens e as mulheres interrogam-se sobre o valor do
próximo e os meios mais eficazes para que todos possam fruir do mínimo de
bem-estar enquanto membros da sociedade com plenos direitos.
Quando a sociedade chega a conclusão que todos indivíduos
são iguais perante a lei e, por esta via têm direitos e deveres que devem ser
garantidos começa a procura de mecanismos para implementar acções que levam ao
alcance do bem-estar comum. Entra-se desta forma no campo da moral.
Segundo o psicólogo Émile Boirac “a moral não é um
simples estudo dos costumes humanos: tem antes por objectivo as regras dos
costumes, a moralidade ideal e perfeita. Propõe-se a saber não como os homens
vivem de facto, mas como devem viver”. Ora, nesse sentido a moral é a ciência
dos costumes tal como devem ser e não como são. Assim existe a necessidade de
fazer recurso à noção de bem e de mal, ou seja, quando fazemos apelo a
moralização da sociedade, estamos implicitamente a dizer que há uma ausência do
bem ou daquilo que deveria ser.
Se a constatação é factual, então existe a necessidade de
se indicar aquilo que deve ser (as obrigações, os deveres, as responsabilidades,
os juízos de valor que passarão a fazer parte dos conteúdos da consciência
moral). O filosofo Kant no seu livro sobre a Crítica Razão Prática afirma que
“o homem, através da razão prática cria as suas leis morais que se impõem à
vontade como imperativos categóricos dignos de todo o respeito e, por isso de
obediência”.
Para este grande filosofo “nada pode ser tido por bom,
excepto a boa-vontade. Esta boa-vontade não consiste em querer o bem proveniente de qualquer principio exterior, mas de bem querer”. Devemos bem querer aos
outros e a nós próprios, daí a máxima: Faça aos outros aquilo que gostarias que
te fizessem a ti. Kantianamente falando diríamos “age de tal modo que gostarias
que a tua acção recaísse sobre ti.”
A moral sendo a ciência dos costumes tal como devem ser é
diferente dos valores. Do ponto de vista da axiologia o valor é individual,
está intrínseco a cada pessoa. Cada um atribui uma determinada qualidade às
coisas que lhe são apresentadas, os valores também podem ser abstratos ou
materiais: ser humilde ou boa pessoa é interior ao individuo, mas dar mais
valor à uma viatura do que às pessoas é material.
Portanto, os valores morais seriam os costumes desejáveis
pela sociedade, aqueles hábitos e costumes que levariam os homens e as mulheres
a alcançarem a felicidade. Para que tal aconteça a sociedade ou o grupo de
pessoas sobre as quais recai a necessidade de alcançar e praticar valores
morais deve definir que tipo de valores se pretende, sensibilizar,
consciencializar, padronizar, corrigir, indicar, cultivar e cultuar os valores desejáveis,
que passam a ser valores morais, premiando o bem e reprovando o mal.
As pessoas só irão agir com moral se por um lado,
sentirem que o bem compensa na pratica e por outro lado, se o mal tiver consequências
negativas. Portanto, a moralização da sociedade não só implica uma hierarquia de
valores que elevam o que é desejável e minimizam o indesejável, mas também um
conjunto de acções concretas que induzam as pessoas a praticar o bem-comum em
detrimento do mal.
A campanha sobre a moralização da sociedade lançada pelo
MPLA é uma iniciativa boa que deverá agora ser assumida por toda a sociedade
porque, em principio todos os cidadãos querem o bem. O lançamento da campanha
constitui um factor da agenda política, a eficiência e a eficácia da mesma irá
depender das acções que forem implementadas.
Para que tal aconteça é necessário mobilizar os
Ministérios da Educação, da Acção Social Família e Promoção da Mulher, da
Juventude, da Justiça, do Interior e da Defesa. As organizações da sociedade
civil e as igrejas para que todos possam estar em harmonia com a campanha.
A moralização da sociedade significa fazer a divulgação
de valores morais, chamar a atenção para a necessidade das pessoas agirem com
ética, orientar a sociedade para padrões de comportamento que elevem o ser
humano e permitam a sã convivência entre todos. Os valores a serem distinguidos
não devem apenas ser cultivados, mas sobretudo cultuados por todos. Uma
sociedade saudável é aquela em que todos vivam com alguma previsibilidade sobre
os actos dos outros.
Sem comentários:
Enviar um comentário