SIM
OU NÃO AO FERIADO DO DIA 23 DE MARÇO
Por:
Belarmino Van-Dúnem
A
Batalha do Cuito Cuanavale constitui um marco na história pós independência de
Angola e da região Austral de África porque os contornos que dela advieram
provocaram mudanças estruturais no plano nacional e internacional.
Entre
as várias versões existentes um dos consensos é o início e o fim da batalha. O
preludio da batalho foi em Novembro de 1987 e só teve término oficial aos 23 de
Março 1988. Na batalha estiveram envolvidos efectivos pertencentes aos
exércitos de Angola, Cuba, guerrilheiros da UNITA e o exército sul-africano
cuja missão era manter o “status quo” na região, no caso concreto, a
sobrevivência do regime do apartheid na África do Sul, a ocupação da Namíbia e
a pressão sobre os países da região Austral de África com especial destaque
para os que fazem fronteira com a África do Sul. Na altura Angola partilha a
fronteira com o regime do apartheid pela Namíbia que estava sob ocupação.
O
fim da Batalha do Cuito Cuanavele mudou de forma estrutural o cenário político
e social da região de forma geral, daí fazer todo sentido a proposta de
transformar a data de 23 de Março num
dia de comemoração regional por várias razões:
1.
A região Austral de África libertou-se do regime do apartheid que, para além de
oprimir a maioria negra na África do Sul e o povo da Namíbia, mantendo este
país sob ocupação, fazia incursões militares de vária ordens nos Estados da
região facto que criava uma grande instabilidade. As incursões eram feitas sob
pretextos dos países abrangidos darem apoio ao ANC e a SWAPO ambos partidos
lutavam para a libertação da África do Sul e da Namíbia respectivamente, nesse
quesito, Angola foi o país que mais sofreu.
2.
A Batalha do Cuito Cuanavale colocou fim ao mito segundo o qual, o regime do
apartheid estava estruturado politica, económica e militarmente de forma
invencível. A retirada das tropas sul-africanas do território angolano e o
inicio das negociações para a desocupação da Namíbia e a consequente libertação
de Nelson Mandela com a respectiva democratização da África do Sul ditaram o
fim definitivo do regime do Apartheid e finalmente ao que pode ser considerado
como a segunda libertação dos povos da África Austral e de África do ponto de
vista geral.
3.
Por último, mas não menos importante, foi também com o fim da Batalha do Cuito
Cuanavale que Angola começou as negociações para a abertura democrática, tendo
as primeiras eleições gerais ocorrido em 1992. Deve-se recordar que o regime do
apartheid aproveitava os movimentos de guerrilha em Angola e Moçambique para
desestabilizar esses países.
Este
marco foi importante porque pela primeira vez, depois da independência nós, os
angolanos, vivemos um período de paz e foi nesse período que os três movimentos
de libertação FNLA; MPLA e UNITA reencontraram-se para defrontarem-se nas
urnas. Portanto, se o objectivo da guerrilha que a UNITA encetou desde a
proclamação da independência era a reclamação da possibilidade de participação
política, com o desfecho da Batalha do Cuito Cuanavale esse objectivo foi
alcançado, o mesmo pode-se dizer da FNLA e de todas as forças políticas
nacionais que não estando envolvidos directamente tinham a mesma expectativa.
Desde o 23 de Março de 1988 que a nossa democracia começou a amadurecer,
culminado com a fase em que nos encontramos. Com avanços e recuos, sucessos e
insucessos, ninguém pode negar que esta é parte da nossa história sob pena dos
factos históricos rebelarem-se.
É
precisamente no relato histórico dos factos ocorridos que existem várias
versões das partes envolvidas: As FAPLA, FALA e; os exércitos Cubano,
Sul-africanos do regime do apartheid. Independentemente das narrativas, a
verdade é que a assinatura dos Acordos de Nova Iorque é que deram origem à
implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU sobre a
independência da Namíbia.
Relativamente
ao diferendo sobre quem terá ganho a batalha, a análise deve ser metódica. Sun
Tzun, grande mestre da estratégia dizia que a guerra tem sempre como fim último
o próprio fim da guerra. É evidente que quando um líder, grupo de pessoas,
instituição ou indivíduo inicia uma guerra tem sempre um objectivo a alcançar,
no caso do regime do apartheid era a manutenção do regime e não conseguiu, por
outro lado, Angola não só conseguiu repor a soberania naquela parte do seu
território fase a invasão que sofrera como também fez cumprir a profecia do
Presidente António Agostinho Neto que dizia “Angola é e será por vontade
própria trincheira firme da revolução em África”. Outras análise
relativamente ao número de baixas, perda de técnica ou material bélico e outros
contornos estritamente militares podem revelar outros dados. Mas ao nível
geopolítico e estratégico o exército angolano oficial, no caso as FAPLA
auxiliadas pelos cubanos venceram a Batalha do Cuito Cuanavale.
Tendo
em atenção os resultados que a Batalha do Cuito Cuanavale provocou ao nível da
política nacional e internacional faz todo o sentido que o dia 23 de Março seja
feriado nacional e uma data de comemoração regional, independentemente das
versões de pormenores de cada uma das partes envolvidas, sobretudo no plano
nacional deveria existir maior consenso, dando todos um sim ao feriado no dia
23 de Março. É lamentavel que até nos aspectos comuns não se consiga consenso
nacional entre os políticos.
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