sábado, 18 de agosto de 2018

BATTLE OF CUITO CUANAVALE

SIM OU NÃO AO FERIADO DO DIA 23 DE MARÇO

Por: Belarmino Van-Dúnem

A Batalha do Cuito Cuanavale constitui um marco na história pós independência de Angola e da região Austral de África porque os contornos que dela advieram provocaram mudanças estruturais no plano nacional e internacional.
Entre as várias versões existentes um dos consensos é o início e o fim da batalha. O preludio da batalho foi em Novembro de 1987 e só teve término oficial aos 23 de Março 1988. Na batalha estiveram envolvidos efectivos pertencentes aos exércitos de Angola, Cuba, guerrilheiros da UNITA e o exército sul-africano cuja missão era manter o “status quo” na região, no caso concreto, a sobrevivência do regime do apartheid na África do Sul, a ocupação da Namíbia e a pressão sobre os países da região Austral de África com especial destaque para os que fazem fronteira com a África do Sul. Na altura Angola partilha a fronteira com o regime do apartheid pela Namíbia que estava sob ocupação.
O fim da Batalha do Cuito Cuanavele mudou de forma estrutural o cenário político e social da região de forma geral, daí fazer todo sentido a proposta de transformar a data de  23 de Março num dia de comemoração regional por várias razões:
1. A região Austral de África libertou-se do regime do apartheid que, para além de oprimir a maioria negra na África do Sul e o povo da Namíbia, mantendo este país sob ocupação, fazia incursões militares de vária ordens nos Estados da região facto que criava uma grande instabilidade. As incursões eram feitas sob pretextos dos países abrangidos darem apoio ao ANC e a SWAPO ambos partidos lutavam para a libertação da África do Sul e da Namíbia respectivamente, nesse quesito, Angola foi o país que mais sofreu.
2. A Batalha do Cuito Cuanavale colocou fim ao mito segundo o qual, o regime do apartheid estava estruturado politica, económica e militarmente de forma invencível. A retirada das tropas sul-africanas do território angolano e o inicio das negociações para a desocupação da Namíbia e a consequente libertação de Nelson Mandela com a respectiva democratização da África do Sul ditaram o fim definitivo do regime do Apartheid e finalmente ao que pode ser considerado como a segunda libertação dos povos da África Austral e de África do ponto de vista geral.
3. Por último, mas não menos importante, foi também com o fim da Batalha do Cuito Cuanavale que Angola começou as negociações para a abertura democrática, tendo as primeiras eleições gerais ocorrido em 1992. Deve-se recordar que o regime do apartheid aproveitava os movimentos de guerrilha em Angola e Moçambique para desestabilizar esses países.
Este marco foi importante porque pela primeira vez, depois da independência nós, os angolanos, vivemos um período de paz e foi nesse período que os três movimentos de libertação FNLA; MPLA e UNITA reencontraram-se para defrontarem-se nas urnas. Portanto, se o objectivo da guerrilha que a UNITA encetou desde a proclamação da independência era a reclamação da possibilidade de participação política, com o desfecho da Batalha do Cuito Cuanavale esse objectivo foi alcançado, o mesmo pode-se dizer da FNLA e de todas as forças políticas nacionais que não estando envolvidos directamente tinham a mesma expectativa. Desde o 23 de Março de 1988 que a nossa democracia começou a amadurecer, culminado com a fase em que nos encontramos. Com avanços e recuos, sucessos e insucessos, ninguém pode negar que esta é parte da nossa história sob pena dos factos históricos rebelarem-se.
É precisamente no relato histórico dos factos ocorridos que existem várias versões das partes envolvidas: As FAPLA, FALA e; os exércitos Cubano, Sul-africanos do regime do apartheid. Independentemente das narrativas, a verdade é que a assinatura dos Acordos de Nova Iorque é que deram origem à implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU sobre a independência da Namíbia.
Relativamente ao diferendo sobre quem terá ganho a batalha, a análise deve ser metódica. Sun Tzun, grande mestre da estratégia dizia que a guerra tem sempre como fim último o próprio fim da guerra. É evidente que quando um líder, grupo de pessoas, instituição ou indivíduo inicia uma guerra tem sempre um objectivo a alcançar, no caso do regime do apartheid era a manutenção do regime e não conseguiu, por outro lado, Angola não só conseguiu repor a soberania naquela parte do seu território fase a invasão que sofrera como também fez cumprir a profecia do Presidente António Agostinho Neto que dizia “Angola é e será por vontade própria trincheira firme da revolução em África”. Outras análise relativamente ao número de baixas, perda de técnica ou material bélico e outros contornos estritamente militares podem revelar outros dados. Mas ao nível geopolítico e estratégico o exército angolano oficial, no caso as FAPLA auxiliadas pelos cubanos venceram a Batalha do Cuito Cuanavale.
Tendo em atenção os resultados que a Batalha do Cuito Cuanavale provocou ao nível da política nacional e internacional faz todo o sentido que o dia 23 de Março seja feriado nacional e uma data de comemoração regional, independentemente das versões de pormenores de cada uma das partes envolvidas, sobretudo no plano nacional deveria existir maior consenso, dando todos um sim ao feriado no dia 23 de Março. É lamentavel que até nos aspectos comuns não se consiga consenso nacional entre os políticos.   
    


segunda-feira, 13 de agosto de 2018

BRICS E ANGOLA

PARA ANGOLA SEGUIR O CAMINHO DOS BRICS

Por: Belarmino Belarmino Van-Dúnem

O conceito de BRICs foi usado, pela primeira vez pelo economista Jim O´Neeill, investigador do Banco Goldman Sachs, num dos seus estudos em 2001, com o tema "Construção de uma Melhor Economia Global BRICs", a atenção foi no sentido de um potencial domínio económico dos BRICs no futuro, tendo em conta as caractéristicas internas, não só de recursos, mas também do ponto de vista demográfico.
O grupo foi criado em 2006 tendo como fundadores o Brasil, a Rússia, a Índia e a China. Os três continentes estavam representados, nomeadamente a Ásia, Europa e América Latina. Mas faltava um representante do continente africano. A África do Sul participava noutro grupo com a mesma essência. O Grupo IBAS (Índia, Brasil & South Africa, o objectivo era criar sinergias para um melhor aproveitamento das potencialidades internas e conquistar as mais-valias existentes no exterior com o apoio de parceiros regionais almejando um comércio internacional mais justo.
O Brasil e a India já estavam integrados no BRICs, não foi difícil convencer a Rússia e a China da necessidade de colocar no grupo a África do Sul porque para além de representar o continente africano no fórum é o país mais industrializado de África e com uma diplomacia económica assinalável, desde a exportação de produtos acabados, influência política até a participação em missões de paz com efectivos militares.
Os BRICS são importantes porque juntos “ocupam 26 por cento da área total da terra, reúnem 43 por cento da população mundial e respondem por 23 por cento do PIB mundial”. As economias nacionais têm conhecido um crescimento contínuo, com algumas excepções. Mas o mais interessante são as projecções de várias organizações internacionais que predizem um domínio dos BRICS ao nível mundial do ponto de vista económico até 2050: China US$ 58,499 trilhões; India US$ 44, 128 trilhões; Brasil US$ 7, 540 trilhões.
É necessário fazer referência que alguns países que dominam a economia mundial na actualidade continuarão no top 10, nomeadamente os EUA US$ 34,103 trilhões; a Alemanha US$ 6,779 trilhões e; Reino Unido com US$ 5, 369 trihões.
Caso se pense integrar outros países para que o BRICS seja determinante económica e politicamente no futuro deve-se ter em conta Estados com grandes potencialidades económicas, mas sem projecção política internacional suficiente actualmente, entre os quais destacam-se a Indonésia com US$ 10, 502 trihões; o México com US$ 6, 863 e; o Japão com US$ 6, 779 trilhões;
O Presidente João Lourenço esteve presente na qualidade de convidado na reunião do BRICS na África do Sul em 2018 e manifestou o interesse em integrar Angola no grupo, intenção partilhada pelo anfitrião do encontro, Cyril Ramaphosa Presidente da Africa do Sul.
Não há dúvidas que países como o México, Indonésia e até o Japão estejam interessados em fazer parte de grupos com o foco dos BRICS. No entanto não passa despercebido que até 2050, segundo essa projecção, nenhum Estado africano estará no top 10 da economia mundial, no entanto com excepção da África do Sul os BRIC estarão entre as dez primeiras economias em 2050.
Há uma grande espectativa relativamente a África do Sul que irá albergar o Banco do BRICS e grande parte dos investimentos do Grupo. Actualmente é o país que mais investe na educação, tanto ao nível do continente africano como comparando com os restantes membros do grupo BRICS.
Angola deverá fazer o mesmo, investir na educação, na investigação e capitalizar os técnicos existentes no país. Os países que integram o grupo BRICS têm dimensão económica assinável portanto, para pertencer a esse grupo é necessário ter ambições económicas reais com uma aposta clara na produção, na inovação e nas novas tecnologias, na industrialização e na potencialização dos empresários nacionais, numa complementaridade entre os grandes industriais e as medias e pequenas empresas.
A Projecção geopolítica de Angola na África Austral e Central, nas regiões do Golfo da Guiné; dos Grandes Lagos; PALOP; CPLP; Zona de Livre Comércio Continental e demais acordos comerciais internacionais, conjugando com as potencialidades naturais internas em termos de acesso ao mar, lagos e rios, existência de terras aráveis, minérios, madeira e outros recursos. a existência de recursos humanos altamente qualificados é chave, esse é o caminho!