HÁ
VIDA NO CAMINHO DE FERRO DE BENGUELA
Por:
Belarmino Van-Dúnem
O
Caminho-de-ferro de Benguela, internacionalmente conhecido como o Corredor do
Lobito, tem uma importância económica para Angola de tal modo que não é nenhum
exagero afirmar que o seu funcionamento constitui uma mola impulsionadora para
a verdadeira integração nacional. O facto do Caminho-ferro de Benguela
atravessar o país do Lobito até ao Luau e, a partir daí, as ligações com a RDC
e com a República da Zâmbia dão a essa infraestrutura uma dimensão
internacional.
Antes
de passar para uma abordagem externa é necessário reconhecer que o pleno
funcionamento do Caminho-de-ferro de Benguela terá um impacte estruturante no
país. Os benefícios são múltiplos:
1.
O
mais visível e que mais cometários desperta é o impacte económico. O
caminho-de-ferro de Benguela pode ser comparado ao curso de rio e toda a vida
que emerge nas margens. Não existe nenhuma dúvida que nas margens da linha
férrea irá florescer indústrias, aproveitando a facilidade de transporte,
hotéis, restaurantes e toda uma actividade comercial com produtos
diversificados.
2.
É
possível adivinhar o nascimento de novos centros urbanos ao longo do percurso
da linha férrea, quer nas paragens centrais quer a volta dos prováveis parques
industriais que irão nascer.
3.
O
povoamento do interior do país é uma necessidade premente porque quando uma
parcela do território nacional é desabitada existem grandes constrangimentos, o
mais evidente é o abandono efectivo, ou seja, não há administração do Estado porque
as forças de ordem pública, a administração local e todas as estruturas e infraestruturas
ficam sem presença permanente.
Nestas condições
existem mais possibilidades para a emergência de actividades informais e
ilegais. O funcionamento do Caminho-de-ferro de Benguela poderá servir de polo
de atracção para as populações das regiões limítrofes, mas também para
eventuais cidadãos que poderão fixar residência nas imediações da linha férrea
por razões profissionais.
Portanto, o
corredor do Lobito é por si só um catalisador para o desenvolvimento nacional. Mas
há necessidade de implementação de todas as componentes complementares para que
haja atracção quer de capital financeiro quer de pessoas.
A existência de
portos em Moçambique e na Tanzânia podem ser vistos como factores de
concorrência, mas tendo em conta a proximidade de Angola a RDC e Zâmbia, a
capacidade da diplomacia política angolana e os investimentos feitos para a
modernização do Porto do Lobito há vantagens por parte desses países em fazer o
escoamento dos seus minérios e produtos por via do Caminho de Ferro de
Benguela.
Existe também a
vantagem geográfica. O facto do corredor do Lobito ficar situação nas margens
do oceano atlântico é uma grande vantagem já que os maiores consumidores
tradicionais de cobre e zinco, Estado Unidos da América e Europa Ocidental, são
banhados pelo oceano atlântico.
A diplomacia
económica será essencial para atrair o investimento externo. Ao longo do
corredor do Lobito poderá emergir zonas industriais que terão atractivo a
facilidade de escoamento do produto para o mercado nacional e externo, já que o
transporte constitui uma dos maiores custos do comércio.
Portanto, há
toda uma necessidade de criar mecanismos legais, administractivos e de gestão
que tenham em conta o desenvolvimento ao longo do corredor do Lobito.
É necessário
prevenir para que não haja ocupação ilegal de terrenos que possam servir para a
implementação de unidades fabris; As administracções locais devem estar
preparadas para estender os seus serviços para todas parcelas do território sob
sua jurisdição. As infraestruturas de transporte de energia e água também devem
estar previstas para que as condições estejam criadas afim de atrair os investidores.
Angola e os
angolanos acabam de ganhar uma infraestrutura cuja dimensão ultrapassa as suas
fronteiras. O projecto contribui para integração política, social, cultural ao
nível nacional.
O facto dos
presidentes da Zâmbia Edgar Lungo e Joseph Kabila da RDC terem-se feito
presentes ao lado do Presidente José Eduardo dos Santos durante as actividades
de inauguração demostra a importância geoestratégica do corredor do Lobito.
Resta agora explorar todas as vantagens do caminho-de-ferro de Benguela e
evitar que o mesmo se transforme numa espécie de elefante branco.
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