Por: Belarmino
Van-Dúnem
A cultura está
relacionada com os hábitos e costume que constituem prática comum e voluntária
de um determinado grupo de pessoas. Os actos praticados com o espirito de
preservar ou praticar a cultura não são, nem podem ser vistos como desvio
porque o seu mote principal é criar a harmonia social, a convivência e a
vivência dos elementos que fazem parte do grupo, portanto viver em paz.
Existem
determinadas práticas que podem cultivar o espirito de violência nos seus
actores, mas quando essa prática se enquadra dentro da cultura não pode ser
vista como violência gratuita com o objectivo de lesar ou ofender a integridade
física ou psicológica de outrem. Assim se enquadram os rituais de passagem que
acontecem em quase todas as sociedades tradicionais tanto em África como na
Europa, Ásia ou nas américas.
A paz é uma
condição em que as partes ou os elementos convivem sem actos de violência
gratuita. Mas essa situação nunca pode ser vista como ausência de conflito
porque isso significaria a morte das dinâmicas sociais, das diferenças entre as
personalidades de cada ser humano e da diversidade de ideias que cada individuo
tem. Mas a essência da paz está na existência de mecanismos que possibilitam a
resolução das diferenças sem recurso à violência.
Neste sentido
emerge o conceito de moral que embora seja abrangente aos valores não se reduz
a eles. A moral, ao contrário da etnografia que descreve como os Homens viveram
ou vivem, dirige e regula a forma como os seres humanos devem viver em
sociedade. Portanto pode-se definir a moral como sendo “a ciência dos costumes tal qual devem ser”.
Os valores são
individuais, valor é tudo que cada individuo defende e prática no seu
dia-a-dia. Esses valores podem fazer parte da moral ou não. Quando fogem aos
costumes tal como devem ser, acabam por desequilibrar a harmonia social e
consequentemente a paz. Portanto, o que se pretende na sociedade é cultivar e
cultuar valores morais, orientar os homens e mulheres sobre o que devem fazer
com a sua liberdade para o bem do uno
social.
Todos os actos
humanos devem concorrer para a paz. As publicações, os espéculos, as
realizações artísticas, literárias, mecânicas, manuais, a luta cotidiana, o negócio
e o ócio devem estar subordinados a moral. No seio das normas morais, a paz
constitui o epicentro de todo o desenvolvimento normativo, é o fim último.
Há necessidade
de desenvolver a cultura de paz no sentido em que os actos ou acções dos
cidadãos possam concorrer para a harmonia social. A transformação deve começar
com a intenção. Quem prática um acto com o objectivo de colocar em causa a paz
social está perante uma acção imoral. A sociedade actual está a perder a
cultura de paz porque cada um tenta levar a sua liberdade ao extremo
transformá-la em libertinagem.
O condição de Homens
livres induz alguns indivíduos a perder a noção de dever, logo, essas pessoas
estão a perder a sua natureza humana. O dever é um imperativo que só é
atribuído aos homens porque sem liberdade não há dever.
O dever fazer
uma coisa implica a possibilidade de o não fazer, por isso só se impõe deveres
aos Homens e não as coisas e aos animais, quem não tem deveres perdeu a sua
humanidade. A instrução e a educação concorrem para o desenvolvimento de uma
cultura com base no encontro e manutenção da paz. Todos aqueles que esquecem a anterioridade do nós com relação ao eu,
põem os seus objectivos como prioridade, usam todos os meios para os atingir,
portanto perigam a paz.
O dever de
conviver com os que têm ideias diferentes das nossas, o reconhecimento e
respeito pelas normas que regem a sociedade, a sinceridade e a gratidão são
valores que concorrem para a paz. Quem transmite o ódio, a colonia, a intriga,
a cobiça, inveja, o deixa andar, a falta de reconhecimento da meritocracia, o
esquecimento da solidariedade e da responsabilidade social não ajuda nem
concorre para a manutenção da paz.
A paz enquanto
ausência de um conflito armado é uma realidade em Angola. Os angolanos
ultrapassaram as diferenças ideológicas e convivem e vivem independentemente do
credo religioso, filhação política, raça, cor, linhagem étnica ou classe
social. Mas a cultura de cultivar e cultuar a paz muitas vezes é esquecida e de
tempos-em-tempos a tensão perturba os cidadãos. A paz é condição indispensável para
que a sociedade se desenvolva de forma harmoniosa e promissora. Há necessidade
de desenvolver uma cultura de paz.
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