Por Belarmino Van-Dúnem
No dia 1 de Maio de 2013, Angola
assumiu a presidência do Conselho de Paz e Segurança (CPS) da União Africana. O
CPS é um dos órgãos da União Africana com grande importância, tendo em atenção
o historial de conflitualidade que caracteriza continente africano.
A primeira cimeira dos Chefes de
Estado e de Governo que decidiu a criação do CPS aconteceu em Julho de 2002, realizou-se em Durbam, África do Sul. E só
entrou em vigor no mês de Março de 2004. O Conselho de Paz e Segurança
da União Africana é composto por 15 Estados-membros da Organização, dos quais
10 Estados membros são eleitos para um mandato de dois anos e cinco para três
anos.
Angola esteve na presidência do
Conselho de Paz e Segurança da União Africana no mês de Outubro de 2007.
Durante a presidência angolana aquele órgão da UA teve uma das maiores
dinâmicas da sua história:
·
No dia 10 de Outubro foram aprovadas as sanções
contra as autoridades ilegais da ilha Comoriana de Anjouan para resolução da
crise então instalada;
·
Aos 23 de Outubro foi tratada a questão
relacionada com a região sudanesa de Darfur, depois de auscultar o
representante Adjunto da União Africana e da ONU em Darfur, assim como as
autoridades sudanesas, o CPS publicou um comunicado de imprensa, apelando à um
maior envolvimento internacional para a resolução do conflito naquela região do
Sudão, sobretudo para um maior apoio a Missão híbrida ONU/UA em Darfur
(MINUAB);
·
No dia 25 de Outubro, o CPS, ainda sob
presidência angolana analisou a situação na RDC. Pela primeira vez o General
dissidente, Laurent Nkunda foi culpado de ser o principal mentor de toda a
crise existente, e fez-se um apelo para que todos o seguidores do General depusessem
as armas e integrassem o processo de formação das Forças Armadas Nacionais da
RDC. A presidência angolana foi bastante dinâmica e proactiva, tendo abordado
às questões mais preocupantes do continente no que respeita a segurança.
No dia de Maio de 2013 Angola
retomou a presidência rotativa do CPS da União Africana. Tal como aconteceu em
Outubro de 2007 e em Abril de 2012, desta vez os dossiers são importantes e
bastante complicados no continente.
Mais uma vez a resolução e
prevenção de conflitos serão os assuntos mais cadentes. A manutenção da paz
também poderá entrar na estratégia, mas grande parte dos Estados que estão na
agenda ainda se encontram em conflito de baixa ou alta intensidade.
No ano passado Angola colocou no
top da agenda a Somália, a questão de Darfur e a questão dos países da África
do Norte na sequência da primavera árabe, o destaque na altura foi dado ao que
se estava a passar na Líbia.
Passado mais de um ano, o CPS é
obrigado a analisar os mesmos assuntos e com a agravante de instabilidade ter-se
agudizado em alguns Estados da África subsahariana. Na República
Centro-Africana o grupo rebelde SELEKA perpetrou um golpe de Estado contra o
Presidente François Bozizé no mês de Março de 2013 e, na sequência, formou-se
um governo sob os auspícios dos rebeldes. A comunidade internacional está a
estudar estratégias para pôr cobro a situação.
Na RDC, apesar dos avanços e
recuos, de facto os rebeldes continuam activos na região do Norte Kivu. No dia
24 de Fevereiro de 2013 foi assinado o “Mecanismo
11 + 4” que vinculou todos os actores do continente e extracontinental que
de forma directa ou indirecta podem influenciar o rumo do conflito na RDC. Mas
a assinatura do Acordo também designado Acordo-Quadro nâo impediu os rebeldes
do M23 de continuarem a ocupar a região do Norte Kivu, com a agravante do grupo
estar dividido em dois e a conflitualidade estar a se desenrolar entre grupos
desavindos. Mesmo assim, o Grupo M23 ameaçou ocupar a região de Ngoma caso as
forças internacionais façam ataques contra as suas. O que quer dizer que
acreditam ter maior poder de fogo que as forças de paz.
Na Guiné-Bissau a situação é cada
vez mais confusa. As eleições estão marcadas para o mês de Novembro de 2013, o
Parlamento está num impasse relativamente a aprovação de um governo inclusivo e
os militares, que têm o poder de facto, estão sob tensão porque o representante
do Secretário-Geral da ONU, Ramos Horta, afirmou que “os EUA irão caçar mais alguns políticos e militares”. A CEDEAO e a
CPLP não conseguiram demover o governo dos golpistas e repor a legalidade
constitucional. A situação na Guiné-Bissau não é das mais animadoras.
No caso do Mali desde Janeiro de
2013 que a França, auxiliada por forças africanas, maioritariamente do Chade
está numa ofensiva para impedir a permanência dos radicais islâmicos que
ocuparam o Norte do país depois da região ter sido ocupada por Tuaregues. A
incerteza está na incapacidade financeira e material dos Estados africanos em
manter a ofensiva com a eventual retirada das tropas francesas.
A eterna instabilidade na Somália
e a necessidade de se continuar a dar apoio ao governo contra os radicais do
grupo Al Shabaad cujas acções afectam o comércio mundial, sobretudo a nível
energético é um conflito quase esquecido mas com consequências nefastas.
A Guiné Conacry tem eleições
marcadas para o dia 30 de Junho de 2013, mas a oposição não concorda com a
data. Os actos de protesto e manifestações violentas são frequentes. O país
vive numa situação de tensão desde 2010 na sequência do golpe de Estado.
A preparação das eleições no
Madagáscar e no Zimbabué também merecem uma atenção especial neste mês de Maio,
considerado como mês do trabalhador e da União Africana que irá completa a
idade respeitável de 50 anos com os mesmos problemas. Portanto, a agenda é
densa e difícil, mas a atitude proactiva de Angola enquanto medianeiro e as
expectativas positivas que os actores africanos e ocidentais têm com relação às
acções da diplomacia Angolana irão facilitar a presidência do CPS neste mês de
Maio.