segunda-feira, 2 de março de 2015

HÁ VIDA NO CAMINHO DE FERRO DE BENGUELA


HÁ VIDA NO CAMINHO DE FERRO DE BENGUELA
Por: Belarmino Van-Dúnem
O Caminho-de-ferro de Benguela, internacionalmente conhecido como o Corredor do Lobito, tem uma importância económica para Angola de tal modo que não é nenhum exagero afirmar que o seu funcionamento constitui uma mola impulsionadora para a verdadeira integração nacional. O facto do Caminho-ferro de Benguela atravessar o país do Lobito até ao Luau e, a partir daí, as ligações com a RDC e com a República da Zâmbia dão a essa infraestrutura uma dimensão internacional.
Antes de passar para uma abordagem externa é necessário reconhecer que o pleno funcionamento do Caminho-de-ferro de Benguela terá um impacte estruturante no país. Os benefícios são múltiplos:

1.      O mais visível e que mais cometários desperta é o impacte económico. O caminho-de-ferro de Benguela pode ser comparado ao curso de rio e toda a vida que emerge nas margens. Não existe nenhuma dúvida que nas margens da linha férrea irá florescer indústrias, aproveitando a facilidade de transporte, hotéis, restaurantes e toda uma actividade comercial com produtos diversificados.

2.      É possível adivinhar o nascimento de novos centros urbanos ao longo do percurso da linha férrea, quer nas paragens centrais quer a volta dos prováveis parques industriais que irão nascer.

3.      O povoamento do interior do país é uma necessidade premente porque quando uma parcela do território nacional é desabitada existem grandes constrangimentos, o mais evidente é o abandono efectivo, ou seja, não há administração do Estado porque as forças de ordem pública, a administração local e todas as estruturas e infraestruturas ficam sem presença permanente.
Nestas condições existem mais possibilidades para a emergência de actividades informais e ilegais. O funcionamento do Caminho-de-ferro de Benguela poderá servir de polo de atracção para as populações das regiões limítrofes, mas também para eventuais cidadãos que poderão fixar residência nas imediações da linha férrea por razões profissionais.
Portanto, o corredor do Lobito é por si só um catalisador para o desenvolvimento nacional. Mas há necessidade de implementação de todas as componentes complementares para que haja atracção quer de capital financeiro quer de pessoas.
A existência de portos em Moçambique e na Tanzânia podem ser vistos como factores de concorrência, mas tendo em conta a proximidade de Angola a RDC e Zâmbia, a capacidade da diplomacia política angolana e os investimentos feitos para a modernização do Porto do Lobito há vantagens por parte desses países em fazer o escoamento dos seus minérios e produtos por via do Caminho de Ferro de Benguela.
Existe também a vantagem geográfica. O facto do corredor do Lobito ficar situação nas margens do oceano atlântico é uma grande vantagem já que os maiores consumidores tradicionais de cobre e zinco, Estado Unidos da América e Europa Ocidental, são banhados pelo oceano atlântico.
A diplomacia económica será essencial para atrair o investimento externo. Ao longo do corredor do Lobito poderá emergir zonas industriais que terão atractivo a facilidade de escoamento do produto para o mercado nacional e externo, já que o transporte constitui uma dos maiores custos do comércio.
Portanto, há toda uma necessidade de criar mecanismos legais, administractivos e de gestão que tenham em conta o desenvolvimento ao longo do corredor do Lobito.
É necessário prevenir para que não haja ocupação ilegal de terrenos que possam servir para a implementação de unidades fabris; As administracções locais devem estar preparadas para estender os seus serviços para todas parcelas do território sob sua jurisdição. As infraestruturas de transporte de energia e água também devem estar previstas para que as condições estejam criadas afim de  atrair os investidores.
Angola e os angolanos acabam de ganhar uma infraestrutura cuja dimensão ultrapassa as suas fronteiras. O projecto contribui para integração política, social, cultural ao nível nacional.
O facto dos presidentes da Zâmbia Edgar Lungo e Joseph Kabila da RDC terem-se feito presentes ao lado do Presidente José Eduardo dos Santos durante as actividades de inauguração demostra a importância geoestratégica do corredor do Lobito. Resta agora explorar todas as vantagens do caminho-de-ferro de Benguela e evitar que o mesmo se transforme numa espécie de elefante branco.             

UKRANIA´S CONFLICT: BETWEEN RUSSIA AND THE WEST


 UKRANIA´S CONFLICT:  BETWEEN RUSSIA AND THE WEST
 

Por: Belarmino Van-Dúnem


O conflito Ucrânia tem dividido a comunidade internacional, levantou o fantasma de potência e a divisão geoestratégica de zonas de influência entre a Federação Russa e os países que compõem a OTAN.
 

A Federação Russa, saída do embrulho económico, político, social e cultural da década de 90, ficou despida da força simbólica que dividia a comunidade internacional durante a Guerra Fria. Na verdade, os Estados Unidos da América consolidaram o seu poder e relegaram a Europa para segundo plano, sob carona da aliança euro-atlântica.
A Ucrânia herdou da ex-União Soviética uma indústria de armamento bastante respeitável. Em 1992 era a 14ª potência nuclear mundial. Mas a filosofia depois da Segunda Guerra Mundial levou os EUA, a Rússia e a União Europeia a convencer o governo ucraniano a desfazer-se da sua capacidade nuclear com a promessa de apoios financeiros e a protecção em caso de invasão das suas fronteiras.
O ambiente internacional da década de 90 pode ser designado de era da utopia dos Estados e dos políticos. A ONU foi chamada para o centro da resolução de conflitos e a comunidade internacional parecia caminhar para o universalismo, tanto do ponto de vista do sistema político – todos adoptaram o sistema democrático multipartidário –como pelo nível do sistema económico com o florecimento da economia de mercado com base no liberalismo. Instalaram-se os valores culturais do “laissez faire”.
O fim da União Soviética deu a sensação aos Estados do triunfo e consolidação do unilateralismo dos Estados Unidos da América e do seu braço de segurança euro-atlântico, a OTAN. A aliança entre os EUA e a Europa Ocidental – conhecida no seu conjunto como Ocidente – passou a ser vista como a mensageira da liberdade e, como tal, teria uma missão libertadora para o resto do mundo.
Nesse projecto de expansão do Ocidente, a Rússia aparece no contrapeso. A política externa russa vai em contramão em todas as frentes. Na ONU, os países em vias de desenvolvimento podem contar com o veto da Rússia sempre que haja qualquer tipo de imposição por parte do Ocidente.
Ao nível da União Europeia, há por parte da Rússia a tentativa de se apresentar como um parceiro para as trocas económicas e de tecnologia, assim como na estratégia da luta contra o terrorismo, nesse campo em que os EUA surgem como líder de facto da OTAN. A Rússia criou também um conjunto de organizações multilaterais que servem de escopo para a concretização da sua influência, que na verdade é mais política do que económica ou militar. Criou a Organização de Cooperação de Shanghai – que integra China, Uzbequistão, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Mongólia e Irão e onde o Paquistão e a Índia têm o estatuto de observadores.
Na senda da geoestratégia, criou ainda a Organização de Segurança Colectiva – de quem fazem parte Bielorrússia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tadjiquistão, Quirguistão e Arménia. E na zona de influência histórica herdada da URSS, foi criada a Comunidade dos Estados Independentes – composta pelo Uzbequistão, Cazaquistão, Tadjiquistão, Quirguistão, Turquemenistão, Arménia, Bielorrússia e Moldávia.

A Ucrânia também fazia parte desta Comunidade, mas a política de expansão da OTAN fez com que o país entrasse na crise em que se encontra. Mas apesar de todo esse dinamismo político, a Rússia enfrenta a concorrência dos países emergentes que vão conquistando o mercado dos países em vias de desenvolvimento, sobretudo na venda de armamento.
A Índia, a China, a Bielorrússia, Israel e, inclusive, a Ucrânia têm vindo a fazer concorrência à Rússia. Não foi por acaso que a Rússia integrou o BRICS, grupo composto por Brasil, Rússia, India, China e África do Sul, para fazer uma aliança com os países-chave em cada continente.
O ex-Presidente ucraniano, Viktor Yanukovitch, negou um acordo de integração com a União Europeia e aproximou-se do parceiro tradicional, a Rússia. Essa acção representou a abertura da “Caixa de Pandora”, até aí latente.

As manifestações do mês Novembro de 2014 levaram à deposição do Presidente Yanukovitch e como consequência a Rússia anexou a Crimeia, alegando protecção às minorias russas.
A Ucrânia enfrenta um conflito sectário no Leste do país, onde a maior parte da população é de origem russa e/ou falante da língua russa. Desde a sua independência, em 1991, a Ucrânia vive com os braços abertos, entre a serem puxados para um para outro lado. A verdade é que, até ver para que lado pende, a Ucrânia está com as mãos atadas e dependente do entendimento entre os intervenientes. Por enquanto só há um acordo para a retirada de armas pesadas e troca de prisioneiros.

O mesmo não se pode afirmar relativamente ao cessar-fogo que os dois lados denunciam estar a ser violado.  Aqui aplica-se a velha máxima da política externa: “um Estado que não define de forma efectiva a sua política externa acaba por sofrer com a política externa dos outros Estados”.