ÁFRICA RETOMARÁ A SUA DINÁMICA SEM SARKOZY?
Por: Belarmino Van-Dúnem
A primeira volta das eleições
presidências em França confirmaram as sondagens: “os franceses estão
desiludidos com o seu presidente Nicolas Sarkozy. Ao contrário do que aconteceu
em 2007 em que obteve 31,18 por cento dos votos, desta vez, Sarkozy teve que
contentar-se com 27,18 por cento dos votos contra os 28,63 por cento do
socialista François Hollande que acabou por vencer a primeira volta. Já na
segunda volta foi derrotado por 51,8 por cento dos votos contra 48,4 por cento
dos votos.
Nicolas Sarkozy inverteu a
pirâmide das prioridades eleitorais ao dedicar-se mais às questões externas do
que a resolver os problemas sociais que persistem em fazer parte da paisagem
social francesa. Se é verdade que os africanos não esperavam muito de um
candidato saído da União por um Movimento Popular (UMP), o mesmo não se pode
afirmar dos franceses que ficaram esperançados em ter dias melhores. Mas na
verdade, o que mais marcou os franceses durante a presidência de Sarkozy foi o
aumento da idade da reforma de 60 para 62 anos de idade como afirma um analista
francês, concluindo que os franceses devem trabalhar mais e receber o mesmo
salário.
O Presidente francês cessante acumulou
desgostos atrás de desgostos para os franceses, desde dos assuntos pessoais,
como casar com uma modelo que, segundo a imprensa cor-de-rosa, não havia três
meses de conhecimento mútuo, até a utilização de expressões pouco sociais para
um Presidente do país da elegância nas palavras e na postura (dirigiu-se aos
ciganos com palavras obscenas e chamou os jovens descendentes de imigrantes de
escumalhas, prometendo faze-los desaparecer das ruas). Apesar de ter um
discurso nacionalista, o líder da UMP não conseguiu melhorar os índices de
desemprego, limitar a imigração ilegal ou mesmo fazer baixar os índices de
criminalidade, no campo Europeu tem ido a reboque da Alemanha.
A impopularidade de Nicolas
Sarkozy internamente, não é a mesma no campo externo! O Presidente francês
acumulou vitórias atrás de vitórias, onde colocou a mão conseguiu os seus
intentos, seja para o bem ou para o mal. No ano de 2008, enquanto presidente da
União Europeia, liderou uma intervenção militar na Geórgia, acção efectuada
contra a vontade de outros líderes da Organização do Atlântico Norte (OTAN),
inclusive os EUA, mas devo reconhecer que Sarkozy colocou fim ao conflito,
fazendo guerra como é claro.
Na Cimeira de Lisboa de 2010,
Sarkozy anunciou o retorno da França à estrutura militar da OTAN e foi nessa
condição que não se coibiu de liderar a intervenção contra a Líbia de Kadafi.
Tendo sido o primeiro a reconhecer os rebeldes do CNT, forneceu armamento e
autorizou a participação do exército francês nos confrontos, mais uma vez a
intervenção atingiu os objectivos. o Presidente Kadafi foi deposto e morto, a
Líbia se transformou num “far west”.
Mas a intervenção francesa em
África não ficou por ai, durante a crise na Costa do Marfim, Sarkozy mostrou a
sua pré-disposição para intervenções militares. Não havendo possibilidades de
convencer Gbagbo de que havia perdido as eleições porque o mesmo alegava que
preferia inclusive a recontagem dos votos, a opção de Paris foi a confrontação.
Actualmente Alassame Quattara é o
Presidente e Laurent Gbagbo está em Haia no TPI sob acusação de crimes de
guerra e contra a humanidade. A proactividade de Sarkozy em África levou o ex-presidente
senegalês Abdulai Wade a fazer uma rotura com o pan-africanismo. Wade traiu o
seu próprio pensamento e apoiou o Conselho Nacional de Transição (CNT) da
Líbia, deixando a União Africana e todos os seus homólogos pasmados sem
entender bem o que se passava. A França apareceu também numa polémica de fraude
nas eleições presidenciais que levaram o actual Presidente Ali Bongo ao poder
no Gabão. Segundo as informações, personalidades chegadas ao Eliseu (Palácio
Presidencial de França) teveram uma mão
visível no desenrolar do dossier. No Reino de Marrocos decorreu um inquérito
para apurar uma declaração do ex-ministro da Educação francês entre 2002 e
2004, que denunciava algumas personalidades do Governo francês que,
supostamente, deslocavam-se ao Marrocos para praticas pedófilas.
As polémicas não param por aqui,
em plena campanha apareceram documentos confirmando que Nicolas Sarkozy recebeu
doações de lideres francófonos para a sua campanha de 2007, alias as caritas
para a UMP saíram até da Líbia.
Nos bastidores da política
internacional fala-se, a boca pequena,
do envolvimento da França na instabilidade vivida no Mali e na Guiné-Bissau.
Embora não seja segredo que o armamento fornecido aos rebeldes para derrubar o
regime de Kadafi estão na base do poder militar que os Tuaregues do Movimento
Nacional de Libertação de Azawad (MNLA) têm, o que permitiu a ocupação da parte
norte do Mali. Assim como do aumento da instabilidade na Argélia, no Níger, na
Mauritânia, na Nigéria, no Burquina-Faso, assim como naquela região toda.
Apesar deste retorno da França às
acções externas, Sarkozy faz uma campanha com o discurso roubado a
extrema-direita, prometendo diminuir a imigração, limitando a integração,
fazendo uma colagem entre os imigrantes e o aumento da criminalidade.
O seu adversário foi mais
moderado e simpático, num dos vários comícios que assiste em directo a quando
da passagem de François Holland por Marselha, este distribuía abraços e beijos,
é verdade, beijos até aos homens, parece que é normal lá no sul de França e, em
campanha não faz mal mesmo. O discurso é menos Europa, mais França, integração
para imigrantes, mais segurança e mais emprego. Um apelo a França social, com
mais igualdade, mais fraternidade, evitando que os endinheirados continuem a engordar
e os trabalhadores a aumentar as suas dividas.
No dia 6 de Maio de 2012, os
eleitores franceses concretizaram o desejoso expresso na primeira volta de ver
o Presidente Sarkozy fora do Eliseu. Nós, por cá no continente africano,
agradecemos porque o sonho de uma África independente, sem intervencionismos
tem sido adiado. Como Nicolas Sarkozy, talvez o continente retome as suas
dinâmicas internas iniciadas em 2000 com a refundação da OUA, passado para
União Africana.
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