segunda-feira, 18 de maio de 2009

ONU FORMA POLICIAS DA REBELIÃO NA COTE D’IVOIRE

Por: Belarmino Van-Dúnem

“Bom dia Senhor, controlo de rotina do Comando da Policia”. Estas são palavras que os habitantes de Bouaké, Cote d’ Ivoire, têm que se habituar a ouvir por parte da polícia da ordem pública das Forças Novas (FN), rebeldes que controlam o norte da Cote d’ Ivoire desde Setembro de 2002 com a tentativa de golpe de Estado contra Laurent Gbagbo.
As forças policiais das Forças Novas (FN) foram formadas pela ONU no âmbito dos acordos de Pretória, assinados pelos actores da crise ivoiriense em 2005, que prevê o desarmamento da população.
A ONU formou cerca de 533 polícias pertencentes aos rebeldes das Forças Novas, mas até a data o Governo, liderado por Charles Konan Banny designado pela comunidade internacional, o Presidente da República, Gbagbo, e os rebeldes não conseguiram pôr em prática os acordos que previam eleições livres até Outubro de 2005, formação de um exército nacional e a extensão da administração do Estado em todo o território nacional.
Por estas razões os habitantes de Bouakê ficaram impávidos quando neste novo ano de 2007 foram interpelados por forças policiais dos rebeldes. Segundo Yaya Koné, porta-voz do Comando da Policia das Forças Novas, os policias recém formados pretendem dar uma nova visão e imagem da polícia ivoriense, contrariando a polícia corrupta do governo que controla o Sul do país. O Comandante das forças policias das FN afirmou que ainda carecem de meios, mas têm toda boa-vontade para estabelecer a lei e a ordem no país.
Segundo o Site 20 Minutes (2007), o primeiro patrulhamento da polícia das Forças Novas foi acompanhado atentamente pelas forças da ONU no local. Os novos polícias, sem armas, interpelavam educadamente os transeuntes e os automobilistas que ficaram boquiabertos por existir polícia de ordem pública numa região supostamente sem governo.
A grande questão que se levanta é a seguinte: Não será contra-senso a ONU supervisionar o trabalho de forças rebeldes quando o presidente em causa é reconhecido pela Assembleia-Geral da ONU? A verdade é que esta acção dos rebeldes da FN, supervisionada pela ONU, dá mais força e razões para continuar o braço-de-ferro que existe entre os vários actores da crise ivoirense. A resolução 1633 do Conselho de Segurança das Nações Unidas legitimou o mandato do Actual presidente, Lourent Gbagbo, e do Primeiro-Ministro Charles Konan Banny, facto que causou o desespero de toda a oposição.
Por esta via, não há dúvidas que estamos perante um governo paralelo no mesmo Estado. Portanto, um governo sem Estado. Neste caso cabe a comunidade internacional legitimar e reconhecer os poderes, mas Cote d’Ivoire existe uma grande ambiguidade, nem os rebeldes das FN, nem o presidente têm o apoio total da comunidade internacional. O caos continua.

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