DIPLOMACIA ANGOLANA NO DISCURSO DO PRESIDENTE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS
I
Por: Belarmino Van-Dúnem*
Os discursos do Presidente José Eduardo dos Santos direccionados para à diplomacia apresentam uma visão de futuro e um realismo que permitem a compreensão da evolução da política externa angolana e da conjuntura em que cada um deles foi pronunciado.
Durante a década de 80, o Presidente procurava mostrar aos diplomatas angolanos qual a importância da diplomacia e a missão que deveriam cumprir em beneficio do Estado angolano. Mas reconhecia, com uma franqueza admirável, as debilidades das missões diplomáticas angolanas da época. Esta realidade está patente no seu discurso de 1981, num Comício na Província do Kwanza-Sul “…tivemos que nomear embaixadores que não fizeram cursos de diplomacia e muitos deles não fizeram cursos de Relações Internacionais… foram surgindo alguns problemas, nomeadamente falta de regulação e de conveniente organização…”.
Já em 1983, nos cumprimentos ao Corpo diplomático, o Presidente realçou que “os diplomatas desempenham a importante missão do diálogo e da conciliação dos interesses políticos que, as vezes, são mesmo opostos… é uma missão difícil mas nobre, pois, pela imaginação e eloquência do diplomata pode vincar a paz sobre a guerra, a amizade sobre o desentendimento ou o dinamismo sobre a apatia dos Estados”. Está visão hodierna da diplomacia manifesta que existia, na época, um avanço no discurso do Presidente José Eduardo dos Santos. Atendendo que nos discurso dos anos 70 e 80, o mote principal dos estadistas era a diplomacia de combate, a defesa renhida dos interesses nacionais o que desvirtuava o verdadeiro sentido da diplomacia enquanto meio pacifico de relacionamento entre os Estados.
A abertura e a visão de futuro a que nos referimos ficam patentes nas seguintes palavras: “foram levadas a cabo iniciativas diplomáticas para normalizar as relações da República Popular de Angola com o Senegal e com a República da China, para reforçar o prestígio e o conhecimento correcto da realidade nacional na Europa Ocidental e para diversificar e ampliar as relações económicas com todos os países de interesse com base na reciprocidade de vantagens (1985). Há nestas palavras um pragmatismo que constitui a bases central da política externa do Estado. Embora, o discurso da interdependência global só se vulgarizou durante a década de 90 com a queda do Muro de Berlim, vemos aqui a tentativa de diversificação das parcerias e de uma abertura global.
No ano de 1989, o Presidente reconhecia que “… a fonte principal da nossa diplomacia são os êxitos alcançados dentro do país em todas as esferas da vida”. Esta realidade contínua até os nossos dias, Angola alcançou a paz de forma autónoma, tem conseguido êxitos económicos sem cumprir com as politicas ou directrizes do FIM e suas congéneres, que se têm mostrado desadequados para a realidade africana, actualmente, a comunidade internacional rende-se às evidencias e reconhece que Angola é um exemplo. Em 1990, numa entrevista ao New York Times, reconhecendo a nova conjuntura, o Presidente defendeu novos objectivos para a diplomacia Angola: uma maior inserção no contexto africano e, em especial, na região Austral. Inicio de contactos com a África do Sul; abertura de missões diplomáticas nos Estados com os quais Angola não tinha contactos; adopção de uma diplomacia mais activa, pautando a sua linha de acção na defesa dos interesses nacionais e dos valores universais que preocupam a humanidade (a paz, o desarmamento, a cooperação internacional e as trocas comerciais numa base de justiça e uma maior intervenção das organizações internacionais, em particular da ONU, da OUA e do Movimento dos Países Não Alinhados, nesse esforço geral de estabilização e do afastamento da guerra). Há, de forma manifesta, uma mudança na política diplomática de Angola, sobretudo no relacionamento com a África do Sul que era até então o principal desestabilizador da África Austral devido ao regime do apartheid que reinava na altura naquele Estado, mas que Angola resistiu e combateu até ao seu desaparecimento.
Em 1991, acrescentou que a reorganização do Ministério das Relações Exteriores “deverá ter em conta a defesa dos interesses dos angolanos no estrangeiro, onde quer que eles se encontrem, e a criação de condições que permitam uma constante ligação dos mesmos à Pátria, independentemente das suas tendências politicas ou da sua filiação partidária…”. Portanto, o cidadão angolano aparece como o principal objectivo das novas orientações da política externa de Angola, mais uma vez pode-se constar que nesse período Angola vivia uma nova época que se reflectiu nas orientações da diplomacia nacional.
Fonte: José Eduardo dos Santos e os Desafios do Seu Tempo: Palavras de Um Estadista 1979-2004 - Vol. I (2004:95-100) .
*Analista Politico
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Por: Belarmino Van-Dúnem*
Os discursos do Presidente José Eduardo dos Santos direccionados para à diplomacia apresentam uma visão de futuro e um realismo que permitem a compreensão da evolução da política externa angolana e da conjuntura em que cada um deles foi pronunciado.
Durante a década de 80, o Presidente procurava mostrar aos diplomatas angolanos qual a importância da diplomacia e a missão que deveriam cumprir em beneficio do Estado angolano. Mas reconhecia, com uma franqueza admirável, as debilidades das missões diplomáticas angolanas da época. Esta realidade está patente no seu discurso de 1981, num Comício na Província do Kwanza-Sul “…tivemos que nomear embaixadores que não fizeram cursos de diplomacia e muitos deles não fizeram cursos de Relações Internacionais… foram surgindo alguns problemas, nomeadamente falta de regulação e de conveniente organização…”.
Já em 1983, nos cumprimentos ao Corpo diplomático, o Presidente realçou que “os diplomatas desempenham a importante missão do diálogo e da conciliação dos interesses políticos que, as vezes, são mesmo opostos… é uma missão difícil mas nobre, pois, pela imaginação e eloquência do diplomata pode vincar a paz sobre a guerra, a amizade sobre o desentendimento ou o dinamismo sobre a apatia dos Estados”. Está visão hodierna da diplomacia manifesta que existia, na época, um avanço no discurso do Presidente José Eduardo dos Santos. Atendendo que nos discurso dos anos 70 e 80, o mote principal dos estadistas era a diplomacia de combate, a defesa renhida dos interesses nacionais o que desvirtuava o verdadeiro sentido da diplomacia enquanto meio pacifico de relacionamento entre os Estados.
A abertura e a visão de futuro a que nos referimos ficam patentes nas seguintes palavras: “foram levadas a cabo iniciativas diplomáticas para normalizar as relações da República Popular de Angola com o Senegal e com a República da China, para reforçar o prestígio e o conhecimento correcto da realidade nacional na Europa Ocidental e para diversificar e ampliar as relações económicas com todos os países de interesse com base na reciprocidade de vantagens (1985). Há nestas palavras um pragmatismo que constitui a bases central da política externa do Estado. Embora, o discurso da interdependência global só se vulgarizou durante a década de 90 com a queda do Muro de Berlim, vemos aqui a tentativa de diversificação das parcerias e de uma abertura global.
No ano de 1989, o Presidente reconhecia que “… a fonte principal da nossa diplomacia são os êxitos alcançados dentro do país em todas as esferas da vida”. Esta realidade contínua até os nossos dias, Angola alcançou a paz de forma autónoma, tem conseguido êxitos económicos sem cumprir com as politicas ou directrizes do FIM e suas congéneres, que se têm mostrado desadequados para a realidade africana, actualmente, a comunidade internacional rende-se às evidencias e reconhece que Angola é um exemplo. Em 1990, numa entrevista ao New York Times, reconhecendo a nova conjuntura, o Presidente defendeu novos objectivos para a diplomacia Angola: uma maior inserção no contexto africano e, em especial, na região Austral. Inicio de contactos com a África do Sul; abertura de missões diplomáticas nos Estados com os quais Angola não tinha contactos; adopção de uma diplomacia mais activa, pautando a sua linha de acção na defesa dos interesses nacionais e dos valores universais que preocupam a humanidade (a paz, o desarmamento, a cooperação internacional e as trocas comerciais numa base de justiça e uma maior intervenção das organizações internacionais, em particular da ONU, da OUA e do Movimento dos Países Não Alinhados, nesse esforço geral de estabilização e do afastamento da guerra). Há, de forma manifesta, uma mudança na política diplomática de Angola, sobretudo no relacionamento com a África do Sul que era até então o principal desestabilizador da África Austral devido ao regime do apartheid que reinava na altura naquele Estado, mas que Angola resistiu e combateu até ao seu desaparecimento.
Em 1991, acrescentou que a reorganização do Ministério das Relações Exteriores “deverá ter em conta a defesa dos interesses dos angolanos no estrangeiro, onde quer que eles se encontrem, e a criação de condições que permitam uma constante ligação dos mesmos à Pátria, independentemente das suas tendências politicas ou da sua filiação partidária…”. Portanto, o cidadão angolano aparece como o principal objectivo das novas orientações da política externa de Angola, mais uma vez pode-se constar que nesse período Angola vivia uma nova época que se reflectiu nas orientações da diplomacia nacional.
Fonte: José Eduardo dos Santos e os Desafios do Seu Tempo: Palavras de Um Estadista 1979-2004 - Vol. I (2004:95-100) .
*Analista Politico
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