Por:
Belarmino Van-Dúnem
A
cimeira que está a decorrer entre os EUA e África é um encontro onde os dois
interlocutores irão abordar questões de interesse mútuo. Mas sem menosprezar a
iniciativa e a sua importância esse tipo de encontro começa a incomodar
enquanto princípio.
Já
existe fórum entre a China/África, União Europeia/África e agora os EUA não
querem ficar atrás e criaram esta iniciativa. O que faz refletir é que não
existem fóruns idênticos com outras regiões do mundo. O erro de ver o
continente africano como um todo homogéneo é muito comum e não é difícil
encontrar pessoas a trocar África para se referir à um país específico do continente
africano, este tipo de fóruns não ajuda nada para mudar a tendência.
O
tema do fórum é sugestivo “Investir na Próxima Geração”. África é o continente
que mais tem crescido a par da China na última década, mas ao contrário do
gigante asiático que conseguiu uma indústria transformadora, sendo um polo de
atração de investimento estrangeiro assinalável. África ainda baseia o seu
crescimento na exportação de matéria-prima com um desenvolvimento relativamente
lento.
Apesar
da existência de uma África múltipla e com dimensões diversificadas em todos os
campos e sectores, a União Africa criou uma agenda que será defendida durante a
Cimeira com os EUA onde a cooperação será projectada ao nível bilateral,
regional e continental. Com essa visão serão analisados os seguintes subtemas
na Cimeira: África prospera com base num crescimento inclusivo e num desenvolvimento
sustentável; Um continente integrado, unido politicamente e baseado nos ideais
do pan-africanismo; Boa governação, Democracia, Respeito pelos direitos
humanos, Tolerância, Justiça e Estado de Direito; uma África em paz e em
segurança; uma identidade cultural forte, património, valores e Ética comum;
Desenvolvimento centrado nas pessoas, aproveitamento do potencial das mulheres
e dos jovens; um interveniente e parceiros fortes, unidos e influentes a nível
mundial.
Os
EUA por seu lado elaboraram um programa que inclui a sociedade civil, líderes
do sexo feminino e discussões com os vários responsáveis da administração
Obama, incluindo o Secretário de Estado John Kerry e com o próprio Barack Obama
que estará com os líderes africanos em duas ocasiões durante o fórum. A
primeira será no dia 5 de Agosto em que o casal Obama irá oferecer um pequeno-almoço
na Casa Branca para os líderes africanos e a segunda ocasião será no dia 6 de
Agosto em que estará em abordagem o tema da cimeira, dividido em três pontos: o
primeiro subordinado ao tema do investimento no futuro de África onde será
analisado o desenvolvimento sustentável, o crescimento económico, comércio e
investimento; o segundo tema, já durante o almoço estará subordinado a paz e
estabilidade regional, a preocupação principal é o alcance de soluções
duradoras para os conflitos regionais, desafios para a paz e o combate as
ameaças transnacionais.
O terceiro e último tema do programa estará subordinado
a governação para a próxima geração, o foco principal será sobre os desafios e
oportunidades para que o continente africano continue a progredir política e
economicamente, dando especial destaque a governação.
O objectivo é orientar a governação para a
prestação de serviço aos cidadãos, atrair o investimento externo e fazer
crescer o produto interno bruto, fazendo uma gestão eficientes das ameaças
transnacionais e combatendo o fluxo ilegal de capital. Paralelamente a sessão
principal a primeira-dama Michelle Obama e a ex-primeira-dama Laura Bush irão
presidir um simpósio subordinado ao tema, impacto do investimento na educação,
saúde e parcerias público/privadas.
Os
temas são pertinentes e fazem parte das preocupações de todos os africanos. Mas
a questão que se coloca é se faz sentido abordar essas questões em bloco e se
um dia um Estado africano poderá marcar uma cimeira do género.
Os
problemas de África para além de terem dimensões diferentes têm origens e
soluções que não cabem num pacote único.
Apesar
do ceticismo relativamente a eficiência do formato da cimeira é necessário
aproveitar o debate e as contribuições dos vários fóruns para adapta-lo à
realidade de cada Estado em particular. Se fórum servir para transformar a
visão de uma África homogenia e estagnada no dilema da guerra fria já terá
cumprido com o objectivo mais premente.