quinta-feira, 31 de julho de 2014

A França e a Estratégia de Intervenção em África

Por: Belarmino Van-Dúnem

Quando François Hollande venceu as eleições presidenciais em França, a dúvida que pairou e que a maior parte dos especialistas em relações internacionais tiveram era se a França iria prosseguir com sua inserção no sistema mundial com base na intervenção e presença política/militar, tal como foi projectado pelo Presidente Nicolas Sarkozy.
O Presidente Nicola Sarkozy fez da França o que hoje e no passado é a França, uma potência que se define como pacífica ao serviço da humanidade sem descorar o bem-estar e a segurança do povo francês.
Nicolas Sarkozy fez o retorno da França ao epicentro da política internacional, o sinal mais evidente foi o retorno a OTAN, a profissionalização da forças armadas e o reatamento da actividade francesa em África com a presença de forças militares cujo objectivo é criar uma conjuntura favorável a paz e a estabilidade que permitam a implementação das estratégias e dos interesses no continente.
A presença francesa em África tem variado ao longo do tempo adaptando-se a conjuntura nacional, europeia e respondendo aos contornos que a política interna dos países africanos, sobretudo as suas ex-colónias têm tomado. “Na década de 60 a presença militar francesa em África rondava os 30000 homens. Esse número baixou para 15000 nos finais de 1980. Entre 1995 e 2007, paralelamente a profissionalização, o dispositivo militar foi reduzido, adaptando-se a organização de África em sub-regiões, tendo a França optado por fechar algumas bases.
Em 2008 a França tinha efectivos militares em cinco pontos de apoio para todo o continente africano: No Djibuti; no Senegal; no Gabão e; no Costa do Marfim; um destacamento no Chade, considerado como um dos mais antigos. Na altura a França estava envolvida em três operações em África: Na Costa do Marfim, na República Centroafricana e na fronteira entre o Chade e a região de Darfur.
O custo total, humano e financeiro, da presença francesa em África representou cerca de 10000 homens e 760 bilhões de euros por ano” (Livre Blanc 2008).
Ao longo da história pós-independência dos Estados africanos habituamo-nos a pensar a França como uma das principais impulsionadoras da União Europeia, alias o tratado de Lisboa de 2007 em que a União Europeia consolidou-se como bloco regional supranacional, porque em 1952, a França esteve na base da criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço com o tratado de Paris.
Mas para geoestratégia em África a potência que sempre teve uma presença militar fora dos contornos da guerra-fria é a França, embora muito concentrada nas ex-colónias, tendo como base acordos de defesa e segurança.
O fim da guerra fria e a redefinição da estratégia de segurança da França face a conjuntura europeia que tem procurado desenvolver um sistema de segurança comum reforçando a Organização do Atlântico Norte davam a sensação de uma França apática relativamente ao seu legado histórico em África e os EUA se afirmavam cada vez mais como o actor com uma influência planetária.
O retorno das actividades militares francesas fora das suas fronteiras continua a ser essencialmente em África. Nos últimos anos consta apenas a intervenção no Afeganistão, as restantes foram em África. Na nova estratégia de segurança da França, tem uma forte componente multilateral. O Livre Blanc (2013) exclui qualquer tipo de intervenção militar francesa sem uma coordenação bilateral ou multilateral. Embora essa probabilidade esteja em aberto caso seja necessário para a segurança nacional.
Mas esse facto não tem retirado a autonomia das intervenções militares francesas no exterior, sobretudo em África. As intervenções na Costa do Marfim, na Líbia e no norte do Mali demonstraram essa realidade. A diferença entre elas é que enquanto na Líbia houve uma clara colaboração directa da OTAN, na Costa do Marfim e no norte do Mali as parcerias foram exclusivamente africanas. A última iniciativa de intervenção francesa e que ainda em curso é na República Centro-africana, embora já exista a promessa do envio de uma força suplementar europeia de 1000 efectivos, para se juntarem aos 2000 efectivos franceses e aos cerca de 4500 soldados africanos da misca.
A França se apresenta claramente como a potência mundial com vocação africana, a nova estratégia é muito mais abrangente e pragmática, para além de manter os acordos de defesa e segurança com as ex-colónias, a França reconhece a necessidade de criar alianças com as potências continentais em África. A África do Sul e a Nigéria aparecem como os parceiros principais da Europa e da França no sector da defesa e da Segurança, uma abordagem nova que demonstra adaptação a nova realidade do continente africano.        

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