segunda-feira, 16 de março de 2009

ENSINO TÉCNICO/PROFISSIONAL: GOVERNO ACERTA NO ALVO

ENSINO TÉCNICO/PROFISSIONAL: GOVERNO ACERTA NO ALVO
Por: Belarmino Van-Dúnem

O governo através do Ministro da Educação e do Ministro da Administração do Território anunciaram que a expansão do ensino técnico/profissional será um dos principais objectivos dos respectivos ministérios.
O Ministério da Educação vai apostar na criação de escolas polivalentes. Esta é a direcção mais profícua para a realidade angolana por duas razões:
Primeiro é que as escolas polivalentes têm duas opções: uma via técnica em que o aluno opta por uma área de formação logo no principio do seu endereço; e uma via geral em que o aluno tem um ou dois anos para optar por área especifica de formação.
Segundo, as escolas polivalentes permitem ao estudante fazer o seu percurso académico com certeza de encontrar um enquadramento no mercado de trabalho porque os cursos ministrados nessas escolas devem ser proporcionais as necessidades do país. Portanto, só há formação numa área quando os diagnósticos apontarem para existência de carências de técnicos a nível nacional.
O Ministério da Administração do território aposta na abertura de centros de formação em todos os cantos do país, possibilitando aos habitantes dos recantos mais remotos de Angola fazerem uma formação sem necessidade de se deslocarem aos centros urbanos com todas as dificuldades que este acto acarreta.
Essas iniciativas são de louvar. Angola carece de técnicos básicos e não é justo que as empresas de construção civil importem pedreiros, canalizadores, carpinteiros e mestres de obra ou que as empresas petrolíferas continuem a importar soldadores, electricistas, mecânicos etc. Alias, na área dos petróleos os trabalhadores angolanos não chegam a 1 por cento.
A aposta no ensino técnico/profissional pode mudar esse cenário porque as leis vigentes em Angola estão bem elaboradas no sentido de dar primazia aos angolanos em todas as áreas económicas/administrativas.
Apesar de ser uma politica pragmática, o ensino técnico não significa vetar a possibilidade do aluno fazer uma licenciatura ou doutoramento, mas simplesmente estará preparado para entrar no mercado de trabalho em dois ou três anos, mas se tiver possibilidade de continuar os seus estudos pode faze-lo e com maior probabilidade de sucesso porque já tem todos os conhecimentos básicos da área.
Chama-se atenção para a componente da orientação vocacional. O aluno deve ser orientado para a área onde demonstra mais aptidão, dom, capacidade e, sobretudo, nas áreas onde há carência no país. Embora o aluno tenha o direito de escolher o que quer ser.
Num país em reconstrução a educação deve ser o parente mais próximo do governo e o ensino técnico a componente mais forte da educação para dar ao cidadão a sua autonomia. Dar uma profissão ao cidadão é a melhor forma de combater o desemprego, a delinquência, a exclusão social e a pobreza de forma geral. Mas também promove a igualdade de género e a mobilidade social porque a expansão do ensino com garantias de inserção no mercado de trabalho promove o bem-estar familiar e dá prestigio à quem executa a tarefa. Caso para dizer que o governo acertou no alvo

A CRISE FINANCEIRA AFRICANA ESTÁ LONGE DA CRISE MUNDIAL

A CRISE FINANCEIRA AFRICANA ESTÁ LONGE DA CRISE MUNDIAL

Belarmino Van-Dúnem*

A crise financeira que atravessa o mundo, principalmente os estados cujo sector financeiro opera essencialmente em sistema de bolsa, levou os economistas à debater sobre as consequências para o continente africano. Nós, em Angola, também nos fomos pronunciando, alguns defendendo que a crise não chegará à Angola e, outros, afirmando que a mesma já está entre nós sob várias formas.

A verdade é que a maior parte dos estados africanos já vive em crise, com economias debilitadas, dependentes do sector de exploração de matérias-primas, concorrentes, pouco/não competitivas e, como é evidente, sem qualquer tipo de vantagem comparativa. Alguns países têm um sistema de bolsa funcional, nomeadamente a África do Sul, a Nigéria e o Quénia. Todos estes Estados estão a viver uma recessão económica, mas a causa está na conjuntura interna e não na crise financeira mundial.

Vejamos a realidades dessas economias, tidas como as mais estruturadas do continente africano, do ponto de vista comparativo. A África do Sul que, sem sobras de dúvidas, é a maior economia real de África, desde há dois ou três anos que sofre com uma crise energética cuja solução, os sul-africanos procuram sem sucesso. O ramo industrial tem sido o mais afectado com centenas de empresas a fechar e milhares de empregos perdidos. O Quénia, que era tido como um dos estados mais estável de África, conheceu uma crise pós-eleitoral que paralisou o país, sobretudo, a capital, Nairobi. A Nigéria, cuja economia está ancorada na exploração do crude, tem visto os grupos rebeldes da região petrolífera do Delta do Níger a aumentar em número e em capacidade de força, facto que torna os custos de exploração bastante elevados.

A crise financeira actual é para os estados africanos uma crise de financiamento, ou seja, as verbas destinadas ao financiamento para o desenvolvimento serão encaminhadas para cobrir o buraco financeiro dos próprios financiadores. Os Bancos instalados em África e que dependem dos empréstimos das suas sedes no Ocidente também terão dificuldades porque não tendo crédito, como é evidente, não há capacidade para financiar os clientes. Mas esta realidade não se verifica com os bancos angolanos ou com capital angolano onde acontece o contrário.

Existe a possibilidade de se verificar uma quebra na procura de matéria-prima por parte das potências ocidentais, facto que afecta a Economia Real dos estados africanos, para além das mesmas estarem cotadas em dólar. Neste aspecto, a maior parte dos estados africanos terá uma quebra real a nível das receitas, já que as empresas de exploração de matéria-prima são estatais ou do novo tipo (parceria publico/privada).

A crise financeira actual é uma catástrofe para os estados africanos que estarão longe de receber as ajudas para o desenvolvimento, os estados ocidentais vão esconder a “algibeira” muito mais longe e procurarão maximizar, cada vez mais, as suas vantagens competitivas, o apartheid económico irá aprofundar-se.

As economias africanas estão em crise, portanto a crise não é e nunca foi financeira. Há necessidade de se estruturar as economias do continente berço, criar uma classe média credível, empreendedora e competente. A política do micro-crédito que está a ser vendida aos africanos serve para combater, de forma relativa, a pobreza, mas não ajuda a consolidar a economia e muito menos contribuir para o desenvolvimento, porque poucos são os projectos deste género que apresentaram resultados duradoiros e viáveis.

Se existir mais emprego, trabalho digno e salário justo; As empresas forem competitivas, desburocratizadas e autónomas, capazes de criar emprego e maximizar o seu capital inicial a ponto de poder investir em outras áreas, já estaremos perante sinais de estruturação de um mercado real devido ao aumento da procura, por um lado, e da competitividade por outro. Só assim África poderá participar na economia global, fazendo parte do G20 que passarão à G(x). A crise africana está longe da mundial, ela é mesmo africana.


*Analista Político
Mestre em Estados Africanos: Desenvolvimento Social e Económico
em África – Análise e Gestão.

SE MOBUTU ESTIVESSE VIVO ESTARIA CONTENTE!

SE MOBUTU ESTIVESSE VIVO ESTARIA CONTENTE!

Por: Belarmino Van-Dúnem

O Primeiro-ministro, Antoine Gizenga, indigitado pelo Presidente Joseph kabila, apresentou na segunda-feira passada o novo governo da RDC marcado por uma larga coligação que apoiou Kabila na segunda volta das eleições.
O número de membros do governo é gigantesco, a semelhança do território congolês, 60 ministro entre os quais 9 são mulheres.
6 ministros de Estado, 34 ministros e 20 vice-ministros é a estruturação do governo de Gizenga (com 81 anos de idade) apresentado ao Presidente da Republica da RDC, Joseph Kabila, depois de praticamente um mês de consultas com os partidos da aliança para a maioria presidencial.
Os integrantes do partido do presidente ficaram com as pastas da defesa e da reconstrução, enquanto os lugares de ministros do Estado estão compostos pelos partidos aliados.
Mobutu, Este no nome não é estranho, nem para os congoleses nem para a maioria das pessoas que seguem a politica africana e internacional de forma geral. É verdade, este nome é o segundo no protocolo do actual governo da RDC apresentado no dia 5 de Fevereiro de 2007 pela televisão congolesa. François Joseph Nzanga Mobutu, presidente da União dos Democratas Mobutistas (Udemo) e filho do antigo ditador zairense foi nomeado ministro do Estado para Agricultura, alegria para os mobutistas e tristeza para uma grande parte dos congoleses que queriam a todo custo esquecer os anos de ditadura do criador da antiga nacionalidade zairense.
Foi uma grande recompensa ao seu partido uma vez que não teve grande influência na reeleição de Kabila na segunda volta. Nzanga Mobutu, que fez uma campanha colada ao nome que carrega, com slogans como “Mobutu não morreu” ou “Mobutu pai da nação congolesa” dá um passo rumo a uma carreira politica com peso no país.
O Ministério do interior, um dos sectores mais importantes para continuidade do processo de paz e reconstrução nacional, foi entregue ao General Denis Kalume Numbi tido como próximo do presidente da república. Os negócios estrangeiros estão sob responsabilidade de Antipas Mbusa Nyamwisi, presidente do partido Forças do Renascimento (FR).
Recorde-se que as eleições legislativas e presidenciais realizadas em 2006 na RDC são consideradas históricas por serem as primeiras consideradas livres e justas em 41 anos de independência daquele país africano, obtida em 1960 da antiga potencia colonizadora Bélgica. Mas também foram as eleições mais caras de todos os tempos no orçamento das Nações Unidas.